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Portugal mê Portugal

 
Portugal mê Portugal, das batalhas e dos triunfos, dos reis e dos navegadores, das ilhas e das grandes conquistas, tem agora uma razão para sorrir.
E não é uma razão qualquer. É uma razão que estaria fora da razão do Kant se ele ainda estivesse vivo.
Então não é que o nosso portugal, que tantas alegrias nos deu quando elegeu a alheira de mirandela para simbolo patriótico, quando nos "espetou" com o virtual abono familiar, foi descoberto, imagine, que em Portugal se cura mais de cinquenta tipos de doenças com base no riso. Sim, escusa de voltar atrás para ler. Curar através do riso!

Um parenteses. É sabido que o riso mexe com inúmeras partes do corpo e que, rir, é o melhor remédio.
E é dentro desta tese que vários investigadores da Risologia, depois de supervisionarem o comportamento de alguns portugueses em diversos habitats, concluiram que Portugal está infectado pelo riso. Vai daí, faz com que a tristeza dos baixos salários, das contribuições autárticas, não se revele nos corpos dos portugueses. Um anti-corpos social.
Por exemplo: lá para os lados de Ruílhe há um senhor - que um dia levou com um saco de cimento (cheio) nos costados -, apesar de não receber o cheque da empresa há mais de quatro meses, de não meter uma bucha para cima de oito dias, isso não o impede de apanhar umas cardinas e de fazer o pino mesmo no meio da tasca, para admiração geral dos espectadores.
Ninguém consegue explicar por que é que o senhor Finfas se ri da sua própria miséria.
Alguém tentou descobrir de onde vinha a sua alegria inata ou por que é que o seu fígado ainda não o atraiçoou.

Existe um sítio muito particular em que o riso é uma evidência e, quem por lá passar, terá certamente uma melhoria nos seus níveis sanguíneos. Chama-se qualquer coisa como Assembleia da República, local de muitas risadas, algo só comparável com o Batatoon, uma autêntica clínica geral para as dores.

É aconselhável a todos os que sofrem de artroses, ansiedades múltiplas, insónias crónicas, (preguicite aguda é que não), que dê um saltinho à assembleia, assim, terá a garantia que as prosas anedóticas que lá irão ouvir, farão milagres em seu corpo. Um verdadeiro remédio que daqui a nada o professor Bambo começará a comercializar em caixinhas de 25 cl.

Outro caso: no momento da autópsia a um individuo de cento e dois anos, foi-lhe diagnósticado várias doenças, mas que nenhuma interferiu na sua vida, incluindo a sexual.
E porquê, foi descoberto que esse centagenário era espectador assíduo dos programas do Goucha e, as gargalhadas que o homem dava em vez dos habituais insultos, criou-lhe uma espécie de cápsula contra a mediocridade. Ou seja, o velho estava protegido contra a anti-cultura. E tudo, acredite, por causa do riso.

A União Europeia ao verificar estes factos, resolveu por conseguinte atribuir a Portugal a sigla CTR (Centro Terapêutico do Riso) e, aconselha vivamente todo e qualquer estrangeiro a escolher este nosso cantinho como destino.

Está prevista a visita de mais de trinta milhões de pessoas na época balnear onde ene de êcrans gigantes, sintonizados no canal parlamentar, estarão espalhados pelas praias afim de se proceder à terapia, com a preciosa ajuda do risólogo Alberto João Jardim.

Está previsto também um discurso de dez minutos do primeiro-ministro - momento alto da risada - mais uma intervenção do Santana Lopes que será apenas para quem sofre de incontinência urinária e males da gota.

Este método revolucionário está a criar expectativas para a criação de novas empresas. Os médicos terão de rever conceitos e, obrigados a passarem receita aos seus utentes, com visitas regulares ao município camarário mais próximo da sua morada.

Mas atenção, e isto é muito sério, quem exagerar na dose do riso, pode ir desta para melhor. Já existe um conjunto de leis para serem aprovadas em que, o utilizador ou o ouvinte, de certas explicações de treinadores de futebol, de grupos parlamentares, não pode ficar mais de quinze minutos a ouvi-los, pois sabe-se que a frequência do riso pode inverter-se e originar um imenso lacrimejar, uma ardência nos olhos que afectará o coração e depois a barriga e por aí abaixo. Portanto, contenha-se. Ria-se mas sem abrir muito a boca. Evite exposições demasiadas em comícios ou em reuniões de condónimos.

O próprio Cardinali já disse que as bilheteiras sofreram um arrombo:
- Com tanta palhaçada gratuita por aí, claro que ninguém quer vir ao circo. Ou isto muda ou então fecho as tendas e mando os leões de volta para o palácio da ajuda.

O palhaço Batatinha acrescentou:
- O que me vale são umas biscatadas em lares de idosos, ou, quando macaco Zildo do jardim zoológico sofre uma caimbra muscular, dou um salto até lá e, entre outras coisas, faço umas macaquices por ele.

Enfim, não se pode agradar gregos e troianos, mas, de uma coisa a maioria está de acordo, que há por aí uns gabirus que só podem estar a brincar connosco, isso sim: não é alegria nacional.

 
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flavio silver
 
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Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 19/05/2008 23:06  Atualizado: 19/05/2008 23:06
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
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Mensagens: 3422
 Re: Portugal mê Portugal/ FLávio Silver
Ohhhhh Flávio!
Já estava com saudades de te ler.
Escreveste uma crónica sobre o
riso que não dá riso nenhum, mas enfim
vamos rindo enquanto podemos. Gabirus
é o que não faltam neste circo
portucalense e todos fazemos parte dele,
sei que uns mais activamente, mas fazemos!
Gostei muito da tua crónica, e vai aparecendo
por cá,

beijos

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 24/05/2008 10:18  Atualizado: 24/05/2008 10:18
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Localidade: braga.
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 Portugal mê Portugal para flaviosilver
Um dia alguém dizia que a vida é uma peça de teatro, eu acho que não, concordo contigo, é um espectáculo de circo. Eu sou mais uma conturcionista de carteira vazia, que tentar minimizar-se para caber dentro do baú da vida.

Adorei este teu Portugal que é de todos nós.

És um excelente escritor.
Beijo em ti*