Em mim mora um nada que é tudo
Que em tudo é um nada, não se vê...
Eu sinto e mais não vejo do porquê,
Mas ousa a minha pele por sobretudo!
Meus sentidos, bandeja à mercê,
Donde bebe a vida deste mudo;
Do coração, enfim, se faz miúdo
A inquietar as musas que entrevê...
E eu aqui, a carcaça, compassivo,
Acorrentado ao tipo subjectivo,
Sou mero punho assente num papel:
A máquina d'escrita desvairada,
A caneta duma alma destravada,
O teclado de um poeta sem píxel!
17-04-2024