Quando vejo meu avô hoje em dia, um senhor sério, de poucos risos, fica difícil acreditar nas maluquices que ele diz ter vivido; imagine ter dormido no chão em algumas estações de trem, ter dormido as margens da lagoa do Abaeté, em Salvador, muitos dias, ter viajado de carona na carroceria de um caminhão carregado de lenha , por mais de mil kilometros,na companhia de um bando de malucos como ele; ter participado de uma corrida maluca na Universidade Rural, que consistia em correr nu do alojamento, dar uma volta no P1, pavilhão principal da universidade e retornar ao alojamento, sem ser pego pelos seguranças; alugar um barraco numa favela próxima de Itapuã, junto com algumas meninas e amigos que viajavam de carona como ele; colocar meu pai para dormir, dando uma voltinha de moto; dar uma cobra morta de presente para minha bisavó; viajar de fusca de Corumbá para o Rio de Janeiro e depois seguir até Porto Seguro, mais de 3000km; bater na porta dos outros para pedir comida, como se fosse um mendigo, diz que era para treinar a humildade, como faziam os monges budistas; ele ia de bicicleta ,de sandália havaiana, acompanhado de sua cadelinha, assistir aula no hospital veterinário, enquanto seus colegas iam de branco e elegantes .São tantas as maluquices que me conta que fica difícil acreditar que esse senhor sério e ajuizado, foi na juventude um doidão irrecuperável .