Eu sou poeta, dizem, logo sou um criador.
Crio sonhos, asneiras, bazófias, literatura
Crio poemas de alegria e também de dor
Escrevo muito bem, mas de forma não segura.
Crio provocações, mas não de forma pessoal
São indirectas, escrevo como me apetece
Porque sou poeta e criador, logo, é normal
Se me criticam, não me aquenta nem arrefece.
Nunca ataco ninguém, só se for atacado
Não faço chapéus, não sou bom chapeleiro,
Mas há sempre quem pense que dou recado
Andam enganados, chapéus, só no bengaleiro
Sou poeta, sou criador, dos bons, causo inveja
Eu sei que há iguais a mim, mas não há melhor
Limpo as minhas criações com a velha carqueja
Não há nada a fazer, eu, o poeta, sou o maior.
Crio coelhos, patos, galinhas,na minha gaiola
Crio porcos, vacas, ovelhas, cabras, e cabritos.
Se delas disserem mal, dou-lhes com a tola
E não merece a pena barafustar nem com gritos.
Já estou muito habituado, por isso deixo andar
Se respigo, não é porque não goste, eu sou assim.
Tenho isto no sangue, gosto muito de embirrar
Mas não liguem, sou poeta criador, vão por mim.
A. da fonseca