Eu consigo ouvir durante as noites
Através do som que propagam as estrelas
O relincho dos cavalos negros
Cruzando o entardecer e saltando
Por entre diferentes crepúsculos
Suas patas na sabedoria dos passos
Elevam partículas de água doce
Que ao tocar meus olhos
Dobrando a ampulheta
Transformam-se em gotas salgadas
De uma lembrança que não tenho
Mas que encontram a caravana
Perdoe-me inspiradora dama
Mas são as estrelas que vejo
Todas as vezes que fecho meus olhos
Aquele momento em que temporariamente
Meu espírito se liberta e vai de encontro
Ao seus próprios desígnios
Buscando forças para manter meu corpo
Fiel aos propósitos que tenho de obedecer
E nos poucos anos luz que consigo acompanhá-lo
Recordo que o que passamos hoje
Na maioria das vezes é por nossa própria decisão
E o que nos causa medo e ansiedade é tão pequeno
Frente à imensidão das estrelas
E vejo as flechas que tenho a esperança
De começar a aprender a manusear
Uma vez lançadas podem até não atingir o alvo
Não por mudar seu trajeto
Talvez porque um anjo intua-o a se mover
Ou ainda por cegar os olhos de quem as lança
Se assim o desejar
Mas nada impedirá seu desdobramento em espelho
E retornar...
Clarões e trovões me despertam
Me fazendo cair por entre os diversos
Mundos que agora admito existir
Mas uma estrela me ampara
Sim eu reconheço o brilho de seus olhos no meio da noite
E então começamos a dançar
Outras chegam outro ritmo outras ampulhetas
Vestidas em suas saias rendadas e coloridas
Brilham e sapateiam sobre o grande tablado
Chamado universo
No meu mundo aquele espetáculo
De música e magia
É traduzido por trovões e relâmpagos
Até que caia a tempestade
Mas a chuva não dura pra sempre
E a estrela que zela por mim
Me entrega um pequeno pedaço de madeira
Pouco antes do final da canção
Para que nunca se apague o fogo de minha fé
E tenham certeza
Cada um tem suas próprias estrelas
Espíritos afins
Que cuidam zelam oram e inspiram
O caminho que nós mesmos escolhemos
O meu uma cigana
Quem será o seu?
Carlos Correa