Enviado por | Tópico |
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Alemtagus | Publicado: 11/12/2023 09:50 Atualizado: 11/12/2023 09:50 |
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Re: INQUIETUDE p/ Belmiro Mouzinho
A imagem tem dois aspectos contrastantes que se encaixam na perfeição das realidades que descreve, vejo Moçambique a quem se tenta roubar a pureza da terra e das suas gentes, o grito que se quer livre e que está acorrentado aos interesses maiores de alguns, o "espanto amarelo" que me parece um medo envolto na coragem de sonhar e o lado negro da humanidade a que alguém chamou de pedido de socorro.
Em tão pouco, tanto se diz. |
Enviado por | Tópico |
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HorrorisCausa | Publicado: 11/12/2023 17:36 Atualizado: 11/12/2023 17:36 |
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Re: INQUIETUDE /Belmiro Mouzinho
olá Belmiro Mouzinho
a imagem de " há o clamor que sucumbiu na arquitetura da fome", é inquietante e na minha leitura retrata bem que a fome é arquitetada por interesses vis. o poema no seu todo é intenso, emocionante e certeiro. obrigada pela partilha atenciosamente HC |
Enviado por | Tópico |
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Paulo-Galvão | Publicado: 11/12/2023 20:56 Atualizado: 11/12/2023 20:56 |
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Re: INQUIETUDE
Olá Belmiro,
Poema in tenso e tenso que expõe a face de uma realidade dura; ao colocar-nos assim, cara-a-cara é impossível desviarmos o olhar sem perguntar, Porquê? Paulo |
Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 14/12/2023 19:53 Atualizado: 14/12/2023 19:53 |
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Re: INQUIETUDE
Há algo na expressão inglesa “to be quiet” que me leva para o estar em silêncio. Essa impressão afasta-se um pouco da original e que usamos em português, o estar quiet(o), ou imóvel.
Afinal, há movimento no som. Nas ondas sonoras. Mas o título vai na direcção contrária ao quieto, uma vez estar escrito na negativa. Ora, deve haver algum tipo de som neste poema. Formalmente, tem três versos. O terceiro, extremamente longo, transforma-se, por isso, quase, mais num pedaço de prosa. Os primeiros dois começam da mesma maneira, com o mesmo verbo reflexo. No primeiro, esse “Inclino-me...” (de volta o movimento), essa tendência é tranquila, uma vez associarmos a “...ternura...” a algo sem violência. Mas não é feito sem esforço, porque é a subir, já que “...ascende...”. No mesmo verso, a palavra que mais me interessa é mesmo o “...desapego...”. Parece-me ser uma certa caraterística de santidade, de caminho espiritual. Ou se quisermos, anti-material. Precisamente por associar ao desinteresse, pelo material, pelo ter. Um oposto da ambição. Acho tudo isso muito bonito e tal, mas desde que fui pai, foi um caminho que nem comecei (sou muito apegado aos meus miúdos)... A ligação “...ternura...”-”...desapego...” parece-me fazer todo o sentido e parte do mesmo grupo vocabular. No segundo verso o ambiente espiritual perde-se. E coloca o sujeito poético numa esfera mais humana, com várias facetas, e tornando-se mais complexo. O “...ruído preso na garganta...” é uma boa expressão de angústia. O tal som que me sugere o título, surge áspero. A “lei do ruído” em Portugal é todo aquele, ilegal, que excede os 80 decibéis. Não é a “lei da melodia” ... Este lado a tender para o desagradável, este nó “...preso na garganta...”, além de ser na “...garganta...” (há algo de prosaico e visceral nessa anatomia que não sei explicar), está “...preso...”, isto é, está privado de liberdade, um dos maiores valores que podem existir. Para lidar com tal, é escolhido o silêncio. Dizem ser de ouro. Mas essa inclinação, neste caso, parece mais resignada do que a primeira. Haverá “...ternura...” no “...silêncio...”, ou antes, haverá “...silêncio...” na “...ternura...”? Gosto de “...espanto...”. Essa surpresa que (nos) maravilha. Contudo, no início do terceiro verso, o adjectivo corta o efeito. Os haveres com que somos brindados na terceira pessoa têm um quê de maldição, que tem o seu expoente na última frase, que é a mais brilhante de todo o poema e que me trouxe ao comentário e passo a transcrever: “...há o clamor que sucumbiu na arquitetura da fome.” Este “...silêncio...”, assim escrito, é amargo e quase definitivo. “...o clamor...” é uma grande escolha de palavra para designar “grito de revolta”. Mas a “...arquitetura da fome.” coloca bem mais o dedo na ferida. Por muito corajosos que sejamos, há um limite mínimo que permite essa coragem, e que, infelizmente, destrói toda a vontade. A “...fome.” na sua forma mais séria e destruidora condiciona, inclusivamente a liberdade. Não é à toa que a miséria a ela associada, é encontrada em todos os regimes ditatoriais e assola uma percentagem dominante dum povo a ele sujeito. Essa “...arquitetura...” espelha o planeamento frio, quase artístico (há cidades bem bonitas) e que nos submete também a um arquitecto (ou equipa de arquitectos), alguém por trás, que nas sombras a planeia e lucra. Que edifício horroroso, neste caso, contudo... Obviamente, o som (a Inquitude) foi encontrado. Gosto de poemas curtos e contundentes. Como este. Ainda não dá para definir um estilo neste autor, mas este texto deixou-me o apetite aberto. Bom, também, o apelo para autores africanos publicarem entre nós (Luso-Poemas) estar e ter respostas como esta. Obrigado pela partilha. |