Colesterol
- tudo bem, querido?
- tudo bem…
ela
interpela:
- posso ver, amor?
(…)
estás louco?
estas análises
estão um horror!
- talvez…
um descuido,
são apenas deslizes!
palavras a mais.
- vai mostrar já,
ao doutor.
assim fez
sem responsório
já no consultório
- ora…, vamos lá.
bem, poesia demais…
fez algum excesso?
pergunta o clínico
- não lhe minto.
a hipérboles
e boas metáforas
nunca me rogo
e por vezes peço
um verso tinto
onde me afogo
dos males de aliteração
- o colesterol total
é elevado!
o uso constante
de recursos estilísticos
causa-lhe um dano
gritante!
- não seja cínico,
nem me leve a mal,
pois tenho um plano
com dados estatísticos
o Hdl
de valor gigante
equilibra no final
o Ldl
na junção total.
- diga isso em casa,
verá que o poema
deixa de ser problema!
para ser franco
não sei mesmo mais nada
o quarto de casal
tinha a porta fechada
caiu o terrível trovão
depois, foi um silêncio branco
só se ouvia o coração.