Um vestido bonito à partida e à chegada
São tantos os dias, em que me recordo
do tempo em que os campos
de searas maduras me tocavam
a ponta dos dedos
e me faziam sentir o preço da liberdade,
assim como as papoilas a dançarem
ao ritmo do som frenético
do sopro do vento.
São tantos os sons e atropelos da vida,
que paro para me deter nos sorrisos
e inspiro o toque suave da ternura
para mergulhar bem fundo,
e me erguer neste desabotoar
da minha alma.
São tantos os sorrisos
que já não cabem na minha boca,
tantas lembranças, são como a despedida
de uma estação e fico aqui a acenar
como se no meu lenço branco
tantas vezes erguido
estivessem bordadas
as insígnias da paz a ponto Luz.
Ah! São tantas as saudades
dos tempos já idos, tantas as vezes
que vivi tempos fora do tempo,
caí e levantei e sempre comigo
me reconciliei.
Quantas vezes as cordas
da minha sensibilidade
foram arrancadas perante a cegueira,
quantas vezes a indiferença
passou ao lado,
sem que eu lhe permitisse
beliscar a minha paz.
E se um dia perguntarem o que foi feito
de mim, nos dias em que nada mais
souberem, leiam as cartas
que escrevi à vida
e depois deixem-se levar
pelas minhas mãos
e deixem que os meus olhos
vos mostre os caminhos
por onde andei e sintam a vida
vestir-vos um vestido bonito,
à partida e à chegada.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros