amarei as almas
na devassidão das noites
se melancólico estou
e a alegria delas
fere-me como açoites
amarei a vida
se a pessoa mais querida
fez-me alma sofrida
e se foi senil
sem se despedir
num lindo dia primaveril
amarei meus companheiros
se à boca pequena
são corvos matreiros
dentro da sujidade social
vivem só de momentos
sempre se lambuzam
e de suas bondades
só vejo excrementos
amarei as mulheres
numa mesa de pôquer
se só eu não sei
que as cartas estão marcadas
pro bobo-da-corte diverti-las
sempre amarei
saber-me o último das filas
pra ver o canto desesperado
a simplicidade no falar
do humilde não humilhado
amarei as alvoradas
os pássaros em revoadas
as piracemas da procriação
alguns homens ilustres
soldados da não-extinção
amarei a majestática porção
que nem sei se faço jus
amarei a flux
o básico de cada cidadão
amarei poder amar
tão pequenas coisas
como o flerte
dum casal edênico apaixonado
despedindo-se à beira-mar
amarei o grito louco
meio a um ciclone
dum imprestável aventureiro
que bata às minhas costas
e me direcione aos poucos
aos poucos risque o chão a giz
resquícios de amares que me restam
...
se nada se renova em minha memória
senão meu repúdio a fatos vis
digo que sempre me amarei
pra poder dividir
poucas lições que me prestam
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Rehgge Camargo_________________________________
"o poeta absorve, filtra e exala."