O sol irrompe por entre as nuvens, a chuva cai copiosamente a anunciar a chegada do Inverno, o vento no seu movimento enlouquecido arrasta as folhas inertes deste outono que se despede demoradamente, como se algo o fizesse demorar-se neste rodopiar e escutasse todos os sons da emoção na despedida.
A Melancolia deixa no rosto alguns laivos de tristeza esculpidos na expressão por um breve instante, só uma fração de tempo para que de rompante o pensamento a sacuda e ganhe asas num voo alegre a celebrar uma nova estação.
Há ninhos de andorinhas nos beirais dos telhados, paisagens de Araucárias a crescerem altivas, um campo de margaridas a suster a respiração e na alegria que brota do meu peito, o regozijo das vontades acesas a afastar as nuvens que pairam, há ruídos que se silenciam para resgatar a esperança.
Na ilha encantada dos meus sonhos, ouço o grasnar dos patos do lago, num vaivém constante, levanto os olhos para a direita e vejo uma mãe aproximar-se amamentando seu filho, e aquele momento borda no meu olhar uma emoção à flor da pele, um peito aberto à fome, um bocejo no aconchego dos braços e a saciedade estampada nos olhinhos que a fitam.
Quem me dera ouvir o som dos sentidos misturar-se em abandono nas emoções, ouvir o cio dos dias abrir-se no resgate à paz, dissolvendo a angústia no ventre imaculado das mães e das avós, para que a alegria abra as portas à felicidade e se sinta a lúcida presença dos afetos em verdade e consciência.
Quem me dera.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros