Poemas : 

a farsa do disfarce

 
disfarcei-me
de
mim


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/10/2023 17:37  Atualizado: 01/11/2023 22:12
 Re: a farsa do disfarce



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Pois é, ninguém


Lembro-me qu'tudo é disfarce,
Sendo nulo o que penso ou faço,

Eu fingindo passo por gente,
Mostrando-me sou ninguém, vaso

Pois é, tão falso quanto vazio,
Um vazio que há em mim e se adapta

Ao meu disfarce d'corte
E navalha como maxila d'Boxer,

Espalha-se como bactéria fecal
Num bacio d'encastrar, mesa d'cabeceira

Lembra-me que não é d'mim distante
E eu não sou livre d'andar em frente,

Dou o tudo por tudo, o dito por não dito
Mas sobretudo digo sem refletir muito

No que já disse e torno a dizer meias-
-Coisas sem estribos ou presilhas, decotes

Meias-solas, palmilhas e por í'diante, pois
È, ninguém …


Joel Matos




(obrigado por me inspirares)


Enviado por Tópico
Paulo-Galvão
Publicado: 31/10/2023 17:47  Atualizado: 31/10/2023 17:47
Usuário desde: 12/12/2011
Localidade: Lagos
Mensagens: 1440
 Re: a farsa do disfarce
Boas,
Por vezes também há
Força no disfarce
Abraço
Paulo
PS adoro o excerto de Eugénio de Andrade
de que livro é?



Enviado por Tópico
Egéria
Publicado: 01/11/2023 18:21  Atualizado: 01/11/2023 18:21
Usuário desde: 28/09/2009
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Mensagens: 947
 Re: a farsa do disfarce
Olá
acho que andamos muitas vezes disfarçados...
Abraço

Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 01/11/2023 20:47  Atualizado: 01/11/2023 20:47
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: a farsa do disfarce
Qual será a maior farsa: o eu disfarçado ou o disfarce de mim?


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 03/03/2024 11:36  Atualizado: 06/03/2024 05:46
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 2123
 Re: a farsa do disfarce a todos que comentaram
Excepção:

Agradeço honestamente e sempre a leitura. Se se deram ao trabalho de comentar, ainda mais.

Este poemeto, ou texto, se quiserem, é muito fiel às suas palavras.
O pensamento, que pode estar envolvido, é que levanta questões.

Comecei com o disfarce.
Perto do Halloween, na febre das máscaras, dei por mim a ter uma iluminação.
A farsa, não foi escolhida aleatoriamente.
A teatralidade que poderia introduzir apresentava-se no mesmo grupo vocabular a vários níveis.
Importou-me também a clara aliteração.
O brevidade do poema, também é disfarçada. Queria por a pensar.
As farsas (fui ver) são assim, irónicas, polémicas e de um acto.
O disfarce prende-se também pelo facto de, sendo teatro, é representado, tornando-se uma imitação da realidade.
Um pleonasmo, talvez, se me permitirem.
Máscara na máscara.

Se nos afastarmos do formalismo, entrei pela hipocrisia a dentro. Pelo fingimento.
O poeta é um fingidor, diria Pessoa.

Depois, pensarmos como é a nossa máscara também foi uma busca pelo autoconhecimento.
Como é que nos conhecemos?
Com que frequência somos transparentes com os outros?
E connosco próprios?

Os disfarces são males necessários.
Somos demasiado falhos e tentamos passar a ideia de perfeição.
Podemos ser despedidos do nosso trabalho, ou desamados. Por exemplo.

No Carnaval cometemos as nossas asneiras e ninguém leva a mal.
Ou escondidos detrás de um ecrã.

Abraços a todos e creio que já devem ter percebido porque não respondo, é que sou mesmo chato...