Prima,
Este silêncio
nesta manhã de outono
fria como nenhuma
Caminho
sem pensar
nada tenho a perder
É domingo
Vera
os telhados escuros
da avenida vazia
os ramos secos
poucos
entrelaçados
uma pomba que belisca
a água podre da sarjeta.
Nenhuma alma pela rua
nem o porteiro que varre
nem os cães
Entre raízes da seringueira
da praça da liberdade
os sem teto
encolhidos.
Na banca de jornais
vomitam-se as notícias
da bolsa, do dólar
da droga, corrupção
o pássaro morto no canto
não canta
são buzinas que
rompem o silêncio.
Chove
e a TV só funciona
vez ou outra ou menos
a cama desfeita
lençóis amarrotados
não vou compartilhar com vocês
que diriam?
que tampouco viriam?
tudo bem
Papéis desordenados
pelo chão
esquecidos, suponho
A máquina de escrever
sem fita
cinzeiros cheios
E eu nem fumo
livros amontoados
a roupa suja de tinta
no vidro da janela
a vida corre lá fora
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