não serei o primeiro a confundir
o outono com a queda das folhas
desta velha secretária
para o cesto dos papéis
supondo serem o gesto dourado
de um plátano generoso
a que eu assisto com enlevo
para instantes depois depositá-las
com ativismo de burocrata
no ecoponto do outro lado da rua
assim como um recluso
com amnésia mas arrependido
irei à janela tantas vezes
contemplar o contentor
encardido dos dias idênticos
tentando escutar na distância
as palavras trancadas lá dentro
a conversarem poemas
ardentes e velhacos
inocentes e falhados
à espera de que alguém
as encontre e as segrede
num sortilégio de olhos
fechados atrás das mãos
como fazemos em pequenos
quando somos surpreendidos
pela chegada súbita do crepúsculo
pelas mutações do corpo
pelo fim do verão
no rosto dos nossos pais
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