As lâmpadas acendem-se em artérias de silêncio e a sombra passa
No segredo do pensamento, tal a pedra indevassável é o sinal que
O outono retornou para dar a crua medida de todas as ausências
A plena negação de tudo que um dia escapou e chamamos de real
Escrevo o poema com o ar da tarde que se transformou em vento
Com a chegada da noite e, estrela, se revelará pela imensidão azul
Qual um cheiro de dor antigo e mesclado com os taninos do vinho
Do tempo que o meu coração batia no hemisfério esquerdo do peito
Há quem declare o outono em seu gris, até sonegador das palavras
No entanto é voz, a replicar o pensamento, a atravessar distâncias
Nas coisas e memórias que tocou mais leve com sua transparência
E as ressuscita para desaparecer o todo comprometido com o real
Devolvendo-as ao sonho que as multiplica na voragem do palpável
Em tempos de dias ácidos, vem oxidar o oxigênio febril da insônia
E o faz este poema emergente, prefaciado de palavras indormidas
Que zunem no zinco das tardes, entre as amoras de meu passado
Escrevo poemas, mas aquele coração, ficou à margem da linha do
trem que já partiu, naquele outono que tenho em mim, irrevelado
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