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Quem matou Salomas Salinas ?

 
Quem matou salomas salinas ?



Meu peixe, inaugurei o meu bar lá na garagem. Vamos lá fazer um lanche – era uma manhã de segunda-feira, bem cedo, apareceu todo contente na oficina – Mas antes vamos no mercado grande fazer umas comprar para o almoço – Era a realização de seu sonho, ter seu próprio negocio, pena que não durou muito tempo, devido um contratempo domestico com Dona Encrenca e a sociedade foi desfeita entre tapas, quebras das louças e a retirada forçada para um exilio em Alcantara.
- Meu peixe, comprei um terreno na entrada da cidade, onde vou montar um hotel-pousada restaurante para turistas e o pessoal da base aérea – disse-me todo confiante duas semanas depois do triste incidente.
- Seu Raimundo, o senhor já comeu ostras? – perguntou-me num domingo a tarde na praia do Caolho e fazia um bonito sol, bar quase deserto.
- Não ´respondi timidamente.
Chamou o humilde vendedor de ostras, que prontamente postou-se diante de nossa mesa onde sorvíamos uma segunda garrafa de cerveja. Devoramos varias delas com limão.
- E ai, meu peixe, gostou? Não é bom?
Concordei com um aceno de cabeça. O mar calmo, as ondas quebravam nas areais estava enchendo. O mesmo mar, a mesma praia que uma manhã ensolarada de um domingo ceifá-lo-ia bruscamente.
O segundo encontro foi numa noite em 1985 na Rua Afonso, esperava uma namorada que trabalhava num jornal.
- Ei! Rapaz! – cumprimentou-me cordialmente ao reconhecer-me – Como vai? – Estendeu a mão – Ainda moras aqui?
Naquela época eu ainda residia com meus pais na velha casa grande da Rua Afonso pena, onde nasci e me criei.
- Sim – confirmei e apertamos as mãos e caminhamos juntos até o canto da Travessa da Lapa.
- Tu não conhece ninguém que tem uma ‘besteira’ para vender?
Salomas era um cara bacana, extrovertido – dirão todos os seus conhecidos que tiveram a oportunidade de partilhar um bom ‘baseado’. Inteligente e hábil com as palavras, em poucos segundos angariava sua amizade e sinceridade e se fosse da ‘politica’ ainda era melhor. Conhecia e discorria qualquer assunto, mas agricultura e o paraquedismo era as sua paixões
2
Andávamos lentamente impactados pela certeza do inevitável. Pessoas ensimesmadas, os automóveis em marcha lenta acompanhando o féretro subindo a rua dos Afogados. O truco do comercio da esquina da Fonte do Ribeirão, assou o grosso narigão vermelho e balbuciou alguma coisa ininteligível. Rostos entrincheirados nas suas angustias. Dobramos no beco da antiga Faculdade de Direito. O imponente Edifício Colonial e seus seis andares com suas janelas envidraçadas, as lojinhas do térreo, a cantina do caldo de cana com pastel, o hall dos elevadores usuários bem vestidos e comportados esperava-os pacientemente. A farmácia da esquina. A Rua do Sol, sem o sol tão necessário para iluminar nossas pagadas almas. Subimos na contra mão até contornamos na travessa da Passagem e saímos na rua da Paz. A paz que não existia dentro em nós.
Um ônibus velho fumacento, barulhento e superlotado cortou a nossa passagem para o outro lado e uma garotinha sentada no colo da mãe da janela fez uma careta para mim. Tentei disfarçar a ânsia que queimava minha consciência, mas não consegui.
Um guarda de transito apitou parando o transito. Eu e Karl aproveitamos e atravessamos rapidamente. Os pedestres apáticos, aparentemente sem remosos arrastavam-se a nossa frente alheios ao nosso drama. Uma sensação esquisita corroía o meu fraco ser. Aceleramos e viramos na Rua Candido Ribeiro, passando pelas Ruas Grande e a de Santana e entramos no grande estirão até a Rua das Cajazeiras – uma trilha segura para encurtar o caminho.
- Meu peixe, tu já viu uma ‘peruana’? – perguntou-me numa manhã de sábado, na exígua cozinha da casa Karlniana na Praia do Desterro, onde apertávamos um bom ‘salomônico’. Pegou o baseado e sorveu-o com um aspirador de pó e despois soltou a fumaça pela boca e sugou -a pelas narinas atrás de seu farto bigode e depois de passar alguns minutos a expeliu novamente pela boca. O boné da Vale do Rio Doce com a insígnia de paraquedista na testeira. Os olhos ficaram vermelhos como duas enormes tochas e deu um riso débil.
- E ai, gostou? Tenta fazer – e passou-me o cigarro pela metade, o cara era um verdadeiro dragão e ficou observando com aquele olhar maroto de chapado.
Tentei varias vezes, mas não consegui, engasguei-me e tossi fortemente e ele rindo como uma criança diante de uma travessura.
A velha rua Candido Ribeiro com suas singelas meia-moradas e moradas inteiras ao lado de modernas construções com seus antigos moradores debruçados nas janelas, olhando o cotidiano de todas as tarde e esperando a hora final. Os carros estacionados a a esquerda de quem sobe. Poucas pessoas na rua. Aqui e acolá uma senhora idosa bem trajada acompanhada por uma mocinha, um ancião de boca aberta cochilando sentado numa espreguiçadeira, perdido nas suas remotas reminiscências, balbuciando coisas sem nexos. Karl calado e circunspecto olhando para baixo.
- Poxa, meu chegado esse neguinho é foda – reclamou de Karl certa vez na oficina. Parei meus afazeres para ouvi-lo melhor e estava irascível – Ontem cheguei fissurado na casa dele – e apontou para Karl que serrava um cano na bancada próxima – E ele com um senhor ‘baseado’, não é que o sacana, entocou e disse na maior cara de pau “Que nada, esse é para depois” – Karl sempre risonho, tentou-se defender, Salomas intransigente retrucou – Olha, neguinho filho da égua, eu te espero – ameaçou.
O enorme casarão abandonado onde funcionou a Fabrica de tecidos Santa Amelia com sua alta chaminé de tijolinhos aparentemente ingleses. Um fusca descia a ladeira para a Fonte das Pedras e o mercado central.
Cada passo marcado por uma luta intestina que relutava em não aceitar a realidade, mesmo com todas evidencias, assim mesmo ainda havia uma duvida idiota. Eu e Karl, ambos chocados com essa abrupta perda, pedíamos explicações aos nossos âmagos sentimentais; “Como Salomas morreu?
- Não tem perigo de vocês caírem no mar? Perguntei-lhe uma vez enquanto sorvíamos ‘unzinho’ na sua enorme suíte numa tarde qualquer.

 
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obstinado
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