Poemas : 

Intempérie

 
Desde que partiste na calada da noite silenciosa e vazia
O abandono cresceu incontido, que já quase te esqueci
Memórias de solidão reunidas qual escamas justapostas
Que se desprendem uma a uma, até que não reste nada

A realidade é o silêncio reiterado, é a morte recorrente
Feixes de luz sem brilho, no rio volátil do esquecimento
Foi o que restou, quando renunciaste de tantos sonhos
A buscar o que parecia paraíso, na estrada do vil metal

Mas o que nos difere, nunca foi o que a vista pôde ver
O que me abismou foi julgares o menos qual fosse mais
E hoje derrotada, inerme e prostrada, esperas pelo fim
Que para teu desespero nem vem a dar cabo dessa dor

Porque não vistes, no teu mais íntimo, toda a alquimia
Que um dia nos cercou e tatuou-me a vida no coração
A vida que querias fosse um breve sopro sub-reptício
Mas pelo destino ou por desatino segue outra direção

Na paleta de tua escolha, realçaste a mescla ambígua
Das cores que se confluem ao negro, do céu sem luar
Como um véu infinito além dos sonhos que olvidastes
Sem ver que não foi a intempérie que te tornou frágil

No melhor dos casos é não termos nossa mão, já pálida
A pender, fria, de um saco preto entre desconhecidos


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Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/10/2023 15:44  Atualizado: 10/10/2023 15:54
 Re: Intempérie




Vamos semear negras tempestades para que alguém recolha desses ventos, furacões perigosos e gigantes ... sementes de funcho, beterraba, alho porro.








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Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 11/10/2023 14:45  Atualizado: 11/10/2023 14:45
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: Intempérie/ Sergius D.
olá Sergius

melancolia, desilusão ou morte?

ao ler este poema numa primeira leitura foram de imediato as imagens que me ocorreram.

depois veio o desprezo, justificado pelo verso notável

"A buscar o que parecia paraíso, na estrada do vil metal"

que acompanha o desencanto, a dura crítica à busca implacável da riqueza em abandono de sonhos, promessas, votos de partilha a dois.

o sujeito poético, parece.me, ao longo do poema reforça linhas de pensamento de repetição, desilusão, falta de vitalidade, mas que com a passagem do tempo levará a um esquecimento completo, apesar de quando em vez vir à tona.
e novamente, notável verso.
"Feixes de luz sem brilho, no rio volátil do esquecimento"

no final, o culminar de tudo...a morte que se recorrente já era, desta feita, a dois desconhecidos.

foi uma intempérie de emoções minha tentativa de navegar pelos teus versos

data venia

atenciosamente
HC