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Pao José - I Infancia

 
I -Infância
Minha vida sempre foi difícil e complicada, não conheci meus pais, fui criado por uma senhora que chamava: tia Marta era irmã de minha mãe, que morrera num acidente de carro quando eu tinha apenas cinco anos. Eu lembro. Vivíamos em um lugarejo chamado Mojó, bem longe do centro da cidade, em uma cabana feita de palha e argila, que meus pais construíram à beira de um campo proximo aos mangues e de um rio de água salgada. Não tínhamos vizinhos. Nós éramos muito pobres. Para sobreviver, minha tia fazia carvão. Eu atravessava o campo para vendê-lo no mercado do bairro, que ficava duas horas a pé.
A tia Marta era uma viúva, seu marido morrera fulminado por um relâmpago num dia chuvoso enquanto pescava na beira do rio - Minha tia contava-me com os olhos cheios de lágrimas que não tinha tido uma criança dele. Ela era muito feia, magra, sempre triste, com um lenço envolto em torno de seu pescoço, enegrecido por fuligem de carvão, seus cabelos brancos, e apenas uns cacos de dentes amarelados que segurava o cachimbo de barro. Era tão frágil que ofegava com o menor esforço. O suor fedorento escorria da enrugada testa, às vezes, pingava no prato de comida. Para amenizar a sua melancolia, bebia uns goles de conhaque.
Eu era pequeno, e já trabalhava como adulto. Dormia muito mal, e no dia seguinte eu acordava de madrugada, para ir caieira para remover o carvão. Num calor abrasador e sufocante. Um trabalho perigoso. Usava uma pá com a qual separava o carvão da terra, apesar das minhas precauções, muitas vezes me queimava. Depois, voltava para nossa cabana humilde e suja para tomar uma xícara de café, com pão duro e seco que ajuntava na lixeira do mercado. Minha tia sempre triste colocava o velho bule de café aguado na mesa de madeira rústica enegrecida de gordura e murmurando com o cachimbo na boca. Então gritava para mim: "Joseph, vá vender o carvão, e depois, vai procurar nas latas de lixo, encontrar alguns legumes " Eu respondi "Sim, minha tia", com a boca cheia de pão duro. "Oh, não se esqueça de comprar ossos, um litro de conhaque, uma caixa de fósforos, meu tabaco, um pouco de manteiga e uma agulha para consertar suas roupas, que estão todas rasgadas. Ouviu? " perguntava com a grande colher de madeira na mão e um olhar furioso. Não devia esquecer nada, porque caso contrário, voltaria para a vila. Terminava rápido e corria para carregar o carrinho com os sacos de carvão e pegava a estrada para o mercado para vendê-los . Voltava no meio da tarde, muito cansado, empurrando o carro de mão carregado de comida encontrada na lixeira da feira e as compras solicitadas. Esperava sentada no banco de madeira em frente à porta, no terraço sob a sombra de uma frondosa mangueira, fumando seu cachimbo diante de um copo de conhaque. Parava na frente dela e descarregava para leva-los para a cabana. As moscas voavam ao redor e o cheiro de podridão era horrível. Concluída essa tarefa, entregava-lhe o resto do dinheiro que guardava no sutiã. Depois, jogava o milho para as galinhas e patos que criávamos de trás do quintal. Então, Ela um pouco bêbada e ainda murmurando, levantava-se com dificuldade e entrava na cabana para preparar nossa sopa no caldeirão de ferro fundido, sujo e preto da fumaça da lenha, colocava-o sob três grandes pedras sob o braseiro. Almoçávamos por volta das quatro da tarde o único prato do dia e sempre sopa com todos os legumes e verduras. Depois, juntos, cortávamos os mangues para armamos outra caieira. Após este trabalho, voltamos para a cabana e lavar-me numa grota no meio do campo escuro. Os coachar dos sapos e dos grilos ressoava a noite toda. Tinha muito medo das cobras que passeava a noite pelo terreiro e os mosquitos perturbavam com suas ferroadas doloridas Minha tia, sentada no banco, fumando e bebendo, acendia uma fogueira no terraço: "Joseph, venha aqui que eu catar você", gritava com a voz engrolada de bêbada. Sentava-me entre suas pernas sujas e cochilava um pouco até que entravamos para dormir nos nossos colchões improvisados de palha no chão. Apagava a fogueira e a cabana ficava escura e fria.


 
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obstinado
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