Oitavo dia do ano – quinta-feira
O corpo cansado e dolorido depois de quase uma hora soldando as grades de Gasparetto. Expostas na calçada. Olhava-as de relance com “O Hospital” nas mãos. Se quisesse e tivesse coragem e disposição as terminaria. Mas isso contrariaria seus princípios éticos. Trabalhar demais sempre lhe acarretava problemas. Portanto era melhor ler Hailey e a descrição de uma autopsia.
Foi salvo no finalzinho do expediente uma solda na bicicleta de Chilado – o vendedor de algodão doce. Doze reais para amainar seus desejos etílicos.
Depois da rotina no mercado e na loja do futuro compadre. Na pensão negociou um litro de vinho Gaúcho com a senhoria para paga-la no sábado. Requentou a torta.
No começo da tarde mudou o tempo. Nublou e começou a chover. O cheirinho de terra molhada. O barulho dos pingos estatelando-se no telhado e no terraço. Uma Glacial adormecia no congelador. No aconchego de seu quartinho na penumbra bebericava o vinho e lia Hailey.
- Fecha essa janela Seu Constantino está dando muito trovão e relâmpago – pediu-lhe medrosamente a senhoria que tinha pavor deles. Ela desligara a tv da sala e refugiou-se no quarto junto com Caçulinha cobrindo-se com o lençol.
Com trouxe o litro de vinho e o deixou ao lado da cama. As vezes assemelhava-se com seu mestre Bukowski - o mais underground dois escritores americanos. Trabalhou quatro anos no tribunal foi demitido a bem do serviço público – Faltava muito principalmente nas segundas – nessa época tinha família – abandonou tudo. Grande filha da puta. Por isso não reclamava de sua sina.
Secou o litro. Preparou o prato do almoço e foi para a sala assisti o jornal Hoje e ficou consternado com a triste noticia da morte do icônico Genival Lacerda. Como sobremesa a glacinha estupidamente gelada e duzentos pessoas morreram vitimas da Covid.