Despertamos quando a vida nos leva pela mão e acabamos por sentir cada momento como um milagre, desfrutamos cada instante com gratidão e soltamos as amarras aos sentidos, abafando o som dos ruídos exteriores para nos amarmos, para nos sentirmos em comunhão com o Eterno.
É assim que sentimos o pulsar da voz em silêncio, numa prece ao céu erguida, a fazer respirar os afetos em abraços que murmuram a cor dos sorrisos sempre que somos Uno.
Somos felizes quando escutamos o som de outro olhar, quando respiramos e escutamos em compasso suave os gestos desdobrarem-se como quem nos acolhe e se faz morada em nós.
Descobrimos que não estamos sós, quando nos olhamos, nos amamos nos escutamos e quando nos tocamos por dentro, ao sentirmos uma onda de ternura invadir-nos num apelo ao resgate de nós mesmos.
É como o germinar de uma semente, como vestir o verde da esperança aos sonhos, é como sorrir de peito aberto e beber a aurora matinal num bocejo trémulo para acordar o som acetinado da vida depois do grito agreste do inesperado.
Sinto a vida cobrir-me a ternura do olhar e a paz latejar no meu âmago, como se o caos ao redor ganhasse asas e voasse para bem longe para me alhear de todo o infortúnio.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros