Contemplo no espelho o grito exangue
da minha eternidade
[não sei por onde vagueiam os meus olhos descrentes
talvez errantes nos silêncios do céu]
sustento a minha alma moribunda
num vazio baço
que me proclama pó.
A sombra cai lentamente
veste de sal as águas do meu rio
a chuva grita solidão
e as nuvens
presas ao sol
são barcos que me querem
nos pássaros que já fui.
Fogem-me as horas
distantes
desertas
e o vento
de asas abertas
agita-me um mar
disperso entre os dedos
leva-me a lua de seda feita
e deixa-me só.