Se eu pudesse, de verdade,
Me prender nos teus cabelos
Eu seria o primeiro
Prisioneiro por vontade.
Se eu tivesse tal poder
Dos teus olhos sempre vê-los
Eu seria o primeiro
Prisioneiro por querer.
Se não fosse os meus receios
Os meus medos de menino
Morreria em teus seios
Como morre um passarinho.
Na doçura dos teus beijos
Nos afagos prometidos
Eu seria um deus egípcio
Que passou o Mar Vermelho.
Te veria em meu espelho
Maquiada e semi-nua
Em tamanho desespero
Quando eu te visse duas!
Mas são sonhos os novelos
Dos cabelos caracóis
Deste pôr dos teus dois sóis
Que repousam com tais zelos
Que me sinto estrangeiro
Que só busca ser feliz
Mesmo que noutro país
Tão distante brasileiro.
Onde estás, Felicidade,
Que te busco em outra ilha
Como a mãe procura a filha
Pelas ruas da cidade?
Fogo que arde sem doer
É gemer sem sentir dor
É a dor que dá prazer
Tão contrário a si o amor...
É o contente sem juízo
A tristeza alegre sempre
É um só ranger de dentes
Padecer no Paraíso .
Se eu tivesse tal poder
Dos Teus olhos sempre vê-los
Eu seria o primeiro
Prisioneiro por querer.
Se eu pudesse, de verdade,
Me prender nos teus cabelos
Eu seria o primeiro
Prisioneiro por vontade.
Gyl Ferrys