Seguro nas mãos a arte do pensamento e moldo-a, desmancho toda a sofreguidão e concerto os buracos deixados pelos apertos.
Como uma exímia alquimista, bordo o meu olhar no firmamento e pincelo a doçura dentro da firmeza da realidade, deixo o vácuo solitário espargir os aromas impregnados que se vislumbram adocicados pela voz do silêncio.
Entro em mim e persisto no meu caminho depois de todo o desassossego e deixo o pensamento leve, livre e solto, como a paz que me veste.
Ergo a proa do meu barco e velejo em águas tranquilas, esta calmaria que se insurge, é como a bonança depois da tempestade.
Dentro da Luz que me habita, vejo montanhas e planícies, e inundo-me da respiração das árvores no sopé da colina.
Caminho auspiciosamente vestida de coragem,
como se o meu olhar fosse fraccionado por partes desiguais, mas tão próximas de serem colhidas pela ventania audaz da paciência.
Todos os caminhos são desconhecidos, tudo se distingue entre o bom e o mau, entre a dor e a alegria de um tempo marcado com propósito.
Anseio pelas veredas em tons fortes, como uma paleta outonal, que inebria em cores quentes, dentro do chão do pulmão,
que pulsa e respira uma nova estação.
Tudo é finito neste vale de palavras, nesta certeza que nos atinge, dentro da realidade que nos toma e nos toca como se fossemos
acolhidos, pelos braços da esperança dentro da finitude, tocados pela eternidade.
Vivo como se estivesse tudo bem, para me reapropriar do que me pertence.
Pinto sorrisos nas lágrimas, rasgo a tristeza por dentro e sopro num indizível e profundo querer, as melodias que se vestem de mim e espalho-as como quem semeia o querer.
(Alice Vaz de Barros)
Alice Vaz De Barros