O JACARÉ AZUL
Era chegado o período de reprodução dos jacarés no Pantanal. Lia, a mamãe jacaré põe os ovos e Alfredo, papai jacaré abre um buraco a beira da lagoa e os enterra. Lia pôs , desta vez, aproximadamente , 30 ovos. Só que no meio destes, apareceu um ovo azul! - Um ovo azul! Grita Lia. Após o susto, mamãe coloca o ovo de lado, não quero esse ovo! - o que é isso! É um ovo tão bonito! Alfredo fez então, um buraco a parte, para aquele ovo, tão diferente dos demais, depois , cavou e enterrou os demais. Foram dois meses muito quentes e chuvosos na imensa planície pantaneira , ao fim deste período começam a surgir , do meio da areia , uma porção de lagartinhos esquisitos, eram os filhotinhos do casal. Uns a cara da mamãe , outros com o jeito preguiçoso do papai .A felicidade do casal era tanta, que haviam se esquecido do ovo azul, colocado num buraco a parte . Em meio a festa de recepção para os recém-nascidos , sai do ninho feito pelo Alfredo um filhote bem diferente do que já tinha se visto como jacaré! Era bem maior, mais ágil e todo azul. O azul das lagoas que em dia de sol forte, pareciam o mar . Todos ficaram espantados com o rebento e irmão tão original. Todavia , não tardou a ser aceito pela família , principalmente por suas qualidades superiores; rapidez, valentia e inteligência o faziam respeitado. Não tardou a se tornar líder dos irmãos e dos novatos que haviam nascido naquela lagoa e um grande problema para Lia e Alfredo. Também , estava sempre aprontando , o pequeno azulão, era assim que era chamado pelos conhecidos. Quando submergia na lagoa , ficava tanto tempo embaixo da água , que seus pais eram, constantemente chamados para acudir o filho, que estava para morrer afogado. Qual nada! Ele tinha o misterioso dom de ficar submerso por tempo ilimitado. Com a curiosidade inerente aos filhotes, resolveu um dia, visitar uma lagoa distante, não se sabe como ficou sabendo da existência de uma lagoa distante da lagoa em que vivia , uns diziam que havia ouvido uma conversa de garças ou de tuiuiús... Ao certo ninguém sabia . O que se sabe é que num belo dia desapareceu, como desaparecem tantos jacarezinhos , vítimas de aves de rapina , de piranhas e de de tantos outros perigos que rondavam a sua espécie nestas paragens. Passou , quase um mês desaparecido, ninguém mais acreditava que estivesse vivo. Voltou ao por do sol de um dia desses cheios de mosquitos , assustando a todos, parecia um fantasma azul. Levou a maior bronca dos pais , mas logo todos comemoravam a volta do rebento rebelde. Cresceu um magnífico espécime de jacaré de papo amarelo , que não tinha nada de amarelo , o mais belo, inteligente e resistente entre todos que nasceram naquele lugar. Nunca conseguira esquecer a aventura que o levara ao desconhecido. Resolveu prosseguir, conhecer novos mundos. Sua lagoa já não satisfazia. Partiu, então, rumo ao desconhecido. Atravessou vários campos ,infindáveis corixos , andou dezenas de léguas por areais que pareciam sem fim ,conquistou diversas lagoas. Até que finalmente chegou a uma imensidão de água , que mais parecia o mar. A maior lagoa do mundo! Exclamou , entre assustado e maravilhado. Mas , ali foi recebido com raiva e surpresa , como sempre , pelos jacarés que viviam ali. Onde se viu um jacaré azul! O líder dos jacarés daquele rio , o aconselhou a ir embora ,já que não gostam de estranhos , quanto mais um jacaré azul. No entanto, azulão, não deu ouvidos ao que dizia o líder. Entrou na água e se refrescou a vontade, como se em casa estivesse. O líder se sentiu ofendido e o chamou para briga. A luta não demorou nada para acabar e aquela imensa lagoa já tinha um novo líder. E agora era um grande jacaré azul quem mandava por ali. Apesar de cansado e faminto azulão não teve dificuldades de vencer aquela luta. No dia seguinte, como um bom chefe, logo envolveu-se com os problemas que acometiam a comunidade de jacarés que ali viviam. - Nós aqui somos vítimas constantes dos caçadores. As noites são terríveis! São centenas de famílias que perdem seus membros na calada da noite. Quase não se consegue dormir, parece uma guerra de tanto tiro. Narraram para seu novo líder os jacarés daquele rio. Sob a nova, experiente liderança, sentiram-se encorajados a enfrentar os caçadores. Azulão os ensinou muito que aprendera mundo afora. Passaram a se ocultar na areia quando da chegada dos inimigos, todos fora da água, o rio ficava sem jacarés. Assim os caçadores não viam nenhum olho brilhando, não tendo em quem atirar iam embora. Aprenderam a atacá-los em seus acampamentos, para que passassem a temê-los e para vingar os parentes que tinham virado bolsas e sapatos. Aprenderam truques, para virar o barco dos inimigos em ataques de surpresa. A região logo se viu livre daqueles homens maus. Em todas essas novidades por ali, sempre relatava-se a existência de um imenso jacaré azul que a todos metia medo. A fama de azulão, atravessou as fronteiras do Pantanal, seja nas conversas de garça, seja em história de pescador, a verdade é que notícias da revolta dos jacarés chegou até a cidade grande, onde os homens decidem o destino deles mesmos e dos bichos do Pantanal. A única forma de controlar aquele conflito, foi fazer a paz baseada no seguinte:A partir de agora nem os homens matam os jacarés, nem os jacarés matam os homens Os tempos de paz prenunciavam lagoas repletas de jacarés ao sol, e o aparecimento, vez por outra, de pequenos jacarezinhos de cor azulada, para o espanto e admiração de todos. O jacaré azul virou um mito no reino dos jacarés e uma lenda no reino dos homens.
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