Pela janela do tempo observo a chuva banhando os telhados, as árvores, os pássaros, enquanto os passantes apressados, sob seus guarda-chuvas abrigados, não percebem o momento vivido em cada gota molhada, que escorre e lava a calçada sob seus pés desatinados.
Sob olhar complacente, acompanho o atormentado caminhar dos passantes, tentando se abrigar, sem perceberem o inevitável papel da chuva, de tudo lavar, seja a calçada, a vida apressada, e, até o tempo que passa.
Por um momento, em uma janela de um prédio próximo, observo jovem garota, pensativa, admirando o bailar dos pássaros, voando entre as gotas, atrás de pequenos insetos que fugiam da chuva. Tal balé parecia hipnotizá-la, deixando-a incapaz de notar os passantes açodados, abrigados sob seus guarda-chuvas agitados.
Por um descuido do tempo, nossos languidos olhares se desviaram das gotas que molhavam o momento e num relance se encontraram e congelaram o cair da chuva, o voar dos pássaros e caminhar dos passantes.
Um mirar infinito, um breve sorriso e uma certeza: a garoa molha o tempo, no tempo de um eterno olhar trocado entre almas que de suas janelas apenas observam a chuva, os pássaros e os passantes, sem questionar.
"Viver é confrontar o caos no cotidiano,
evitando cair nas armadilhas da depressão."