Acordar a vida nas brumas do pensamento deixar para trás o vazio, contemplar o sol num novo nascimento, beber a Luz no seu estado inebriante, sentir o pulsar vibrante da água cristalina do pensamento numa oscilação de calmaria intrínseca, os soluços do tempo a perpetuarem a constância, a empurrarem o vento, ora brando, ora impetuoso para fora dos instantes.
Os brincos orvalhados da noite como pingentes, em pérolas transparentes num aroma suave e adocicado, o dilúvio das primeiras chuvas primaveris, a brisa a fazer oscilar as folhas das árvores, ramos inquietos na aceitação do crepitar do convite a uma dança.
O despertar silencioso dos sentidos a comover as emoções em espanto, duas janelas abertas voltadas para o jardim, em constante contemplação, portas que se abrem ao sol do pensamento, um grito ensurdecedor a beber a quietude da sensibilidade por dentro, sem espaço, nem tempo para os ruídos externos.
O elevar de todos os desejos numa trajetória lenta, a escrever a liberdade antes e depois do som abafado das multidões, um turbilhão de sensações na pressa lenta de ser e existir, uma rosa branca a erguer seu caule, impondo a imponente vulnerabilidade das suas pétalas, cerrando seus punhos de espinhos, anunciando a morte do exílio, dentro de toda a sua existência.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros