No prado verde o murmurejar dos ciprestes perfuma a voz da natureza numa busca contínua como se os sussurros se prendessem à alma numa linguagem maternal, arrastando o som para dentro, assim como que a misturar-se ao sopro quente da melodia do coração, a embalar a quietude, a descer suavemente ao mais profundo do ser, para mergulhar dentro do suave e doce reflexo da eternidade.
Tateio as margens apertadas no peito, e sinto o sacudir da felicidade beber a esperança, como se o sabor do dia me fizesse regressar ao lugar mais profundo de mim, regresso aos meus sentidos e sinto o som da paz rasgar as marcas todas do tempo e o que vejo tem a dimensão do sobrenatural, é como se um milagre vestisse o instante, me tomasse nos braços e fecundasse em mim as sementes generosas de todo o porvir.
Sinto o vaguear das andorinhas numa dança plena, é como se a coreografia ensaiada no improviso tecesse todas as formas de amar e tocasse o fôlego da humanidade numa respiração inspirada pelas coordenadas do Criador.
Quero abrigar-me neste lugar Celestial, espargir o brilho de todo o meu contentamento e em agonizante felicidade, sentir a força da água e do fogo irromper em cada poente, como se a linha do horizonte tatuasse em mim as cores novas de todos os entardeceres.
Regressarei a mim, sim, a cada dia deixarei a ternura evadir-se, escutarei a voz doce e melodiosa que me conduz os sentidos inflamados, como se a vida fosse um bater de asas a contemplar o sonho dentro da inspiração dos dias, e mergulharei às minhas águas profundas para sentir o doce aconchego da existência.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros