Pai, o pão nosso de cada dia
Nos negue hoje.
Não nos dê o maná diário de novo,
Pois o pão, Pai, é o ópio do povo.
O pão que alimenta o Homem
Não mata sua fome,
Pois a fome que mata o Homem
É a fome de ser
É a fome de estar
E a fome do saber.
(Você quem me lê
Tem fome de quê?)
O pão é quem prende o Homem.
O pão que preenche, entorpece.
O pão que agiganta, consome.
O pão no estômago engana o âmago
É um estorvo
Pois o pão, Pai, é o ópio do povo.
O pão que sustenta é o mesmo que distrai.
O pão que alimenta é o mesmo que explora
Aquele que pelo pão diário ora.
O pão macio e gordo é o pão do engodo.
O pão que a fome elimina
É o mesmo que domina,
Porque o pão, Pai,
O pão é o ópio do povo.
O pão é o opróbrio do povo.
O pão é o disfarce do gozo.
O pão que permite, aprisiona.
O pão não alimenta.
O pão não liberta.
O pão cimenta.
O pão concreta.
O pão da alienação.
O pão atrapalha.
O pão de migalhas
Se espalha pelo chão.
Por isso, Pai, nos negue o pão nosso de cada dia
E nos brinde com a gana,
Com a garra
Para suportar a batalha diária
De prover não só o pão.
Porque o pão , Pai,
O pão nos engana
Todos os dias de novo, de novo...
Pois o pão, Pai,
O Pão... é o ópio do povo!
Gyl Ferrys