Embalo a fragilidade dos dias como se fosse um recém nascido e deixo a vulnerabilidade tocar-me, sinto a emoção brotar na quentura concentrada das minhas mãos como se toda eu sentisse toda a vacuidade evaporar-se para dar um novo sentido a este novo ciclo de vida.
Sinto a minha semente crescer, irrompendo como quem desbrava caminho em terra fértil, um bouquet de silêncio a despertar, assim, suavemente como quem se abre à vida, como quem se entrega ao desconhecido, crendo na inspiração da construção, como se bastasse apenas um sacudir de ombros e um erguer de queixo, para vestir a determinação e ir com convicção.
Dispo o preto e branco das emoções com a paleta primaveril do bocejo das flores, e sorrio como quem se deixa tocar e sente, ouço o som suave das cores pincelar meu corpo, minha alma, meu âmago, deixando a evanescência transformar-se em permanência, como se a vida mostrasse as cores com novas matizes neste acreditar e bordasse os sonhos com pontos de Luz.
Sinto a respiração num compasso suave, como se inspirasse e a paz flutuasse, assim, como uma pluma, a tocar todos os começos, dando continuidade ao percurso, para atingir todos os fins...
Enleada a toda a bondade que balbucia, como se sentisse o choro da inocência a tomar o seu lugar, dentro de toda a naturalidade vestida de verdade, fecho os olhos e expiro a bondade como se saíssem partículas ínfimas de mim, se multiplicassem e espargissem, assim, como um pó de estrelas a salpicar tudo ao meu redor...
Levanto o choro da minha criança interior a cada amanhecer e em gratidão sorrio de peito aberto, como se fosse brisa, como se fosse sol, como se murmurasse um rio de águas mansas nos passos trôpegos e acordasse o som da ternura de todo o percurso diário.
Agora vou, não como quem não volta, mas como quem permanece, como quem abraça e sente a vida num pulsar constante, dentro de tudo o que é inóspito e subtrai, sem nunca beliscar a dignidade, sem nunca lamentar a vida...
Vou...
Até que ainda tenha para onde ir...
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros