Julguei um dia te admirar, tão íntegro, além das etiquetas
Mas tais enganos o tempo revela a quem desejar conhecer
O brilho nômade que te ilumina o íntimo, a brasa consome
Abres a passagem tão só a certos escolhidos tormentosos
Que transitam em antros de luxúria sombria e reverências
Criaturas melancólicas que só vejo agora que te conheço
Enquanto persegues os fantasmas vazios da coluna social
Povoada do orgulho que grassa qual faz a hera nos muros
Assim te manifestas no idioma da nefasta paixão e veneno
O poder te consumiu em êxtase, o sopro de real grandeza
Agora não tocas mais minh’alma que vive muito além de ti
As portas do inferno se abriram para tua solene chegada
Verás nos saguões onde se cruzam a chuva e a frustração
Os aduladores trazendo maços de flores belas mas podres
Ao passo que com pompa exibem sua opulenta inutilidade
Fazendo ingênuos pássaros multicores grasnarem furiosos
Hoje enfim posso ouvir os rumores sufocados de antanho
Coros de candelabros lascivos que não iluminam as trevas
Putrefatos portais de mármore ligados de face ao abismo
Pomares tão solenes todos cobertos de flores carnívoras
Mas nem lamento, pois, a ilusão da virtude já foi um guia
E se hoje sou quem sou, devo ao que nunca viestes a ser
Muitos de nós teve um mestre que achava um exemplo a seguir. O tempo, porém, mostrou-o um ser vazio, fútil e pretensioso. Minha homenagem a um mentor que se revelou assim. Que a terra lhe seja leve.