Fui um jovem idoso e hoje me sinto um idoso jovem.Numa época que tinha muitos ímpetos os continha racionalizando, hoje racionalizando tento reinventar meus ímpetos. Infiel a promessas antigas e guardião dos anseios eternos, há momentos que me sinto mais velho que o tempo, noutros sinto em mim cheiro de recém nascido. Ontem ator hoje espectador de mim mesmo, sinto e vivo mais, nos bailes da vida onde ontem dançava leve e solto, hoje espectador danço com todas as mulheres todos os ritmos, rio todos os risos,canto todas as músicas.Não montaria para mim espetáculos que não fossem suntuosos de fantasias. Cenários que não conduzissem a emoções gratas a alma. Iluminações que não fossem luares, no cenario lunar dos meus sonhos sou mais um sonho entre sonhos tantos...sou dono de todas as terras que jamais trouxe comigo, dos odores de todas as coisas e de todas mulheres que amei e amo, como Melville, andei muitos mares e tantas bibliotecas, me perdi em tantas paginas viajei em tantos livros e em tantas camas, me banhei em tantas águas que ao fim eram só uma, de março a fevereiro, todas as estações que me conscientizo independem de mim, assim como o sol há de nascer diariamente pelos dias e até o fim dos tempos, sem mim a chuva continuará a molhar a terra, o vento assoviara nas frestas das janelas e a natureza primogênita da vida, talvez nos perdoe de nos imaginarmos senhores do universo.Quanto mais distante fico da infância mais perto sinto esta criança dentro de mim.Vivo hoje...minha infancia final...afinal esta criança em mim ... é quase imortal.
Carlos Said
Inverno 2009