O dia declina, a noite toca o rosto das tardes desenhadas nas planícies, a minha respiração sobe e desce assim como a Luz dos sorrisos que habitam em mim.
Talvez, talvez os dias plantados no asfalto quente da noite sucumbam ao frescor dos meus olhos e o dia repleto de nuances de delicadeza tatue na minha pele os aromas doces e suaves do verão e eu aceite de olhos fechados em reverência uma oferenda ao Deus do amor.
Talvez eu ainda acredite em utopias e o amor não seja um embaraço nem uma farsa que demore para ser descoberta, e o som da mímica dos teus olhos se deixe perfumar pelo aroma dos meus.
Talvez um templo no alto da montanha guarde o silêncio dos meus dias e faça espargir o som acetinado da minha voz suavemente e se escute o murmúrio dos ciprestes a desvendarem o mistério da delicadeza do amor, numa prece ao céu erguida.
Talvez se salvem os grãos das sementeiras da esperança e as mãos estejam ávidas para as lançarem à terra numa dança lenta a ressuscitar os sonhos em cada rebento a despontar no solo árido da vida.
Quem sabe ainda aprenda a aceitar que a humanidade está em crise e o amor continua a ser amor e eu continue a acreditar na verticalidade dos gestos dentro dos dias.
O dia está prestes a sucumbir nos braços da noite, será que ainda me posso abandonar a este momento e esperar que a lucidez me esconda a vergonha de ainda acreditar?
Tanto céu de utopia a mergulhar a esperança dentro do desalento, uma vontade férrea de calar a voz que soluça no peito para acordar a sensibilidade e deixar o amor ser amor.
Rasgo o véu da misericórdia, que a minha voz se levante em justiça e em verdade e perante toda a insensatez das palavras pronunciadas que o meu ventre seja como uma gestante que espera o fruto abençoado e a bondade seja como o perdão no colo do amor...
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros