Poderia sentir o toque das tuas mãos, fechar os olhos e na carta aberta dos teus olhos beber o sol das marés cheias, para mergulhar na ondulação do teu mar e render-me.
Poderia olhar para dentro de ti e sentir o respirar por dentro das tuas folhagens, estender os braços e mergulhar na água das tuas raízes para me reerguer a cada manhã.
Poderia mergulhar no infinito do azul, para beber todas as preces ao céu erguidas, segurar as bênçãos e em cada adversidade cantar um cântico de louvor.
Poderia sim, saltar todos os poentes e permanecer no teu horizonte de Luz, para respirar o perfume de todas as auroras prolongadas nos longos braços da eternidade.
Poderia tocar a ternura dos teus olhos, com o sol da ternura dos meus e reacender o teu sorriso, para que em cada amanhecer pudesse ainda escutar o balbuciar do meu nome pulsar dentro do teu peito.
Pois Poderia, meu amor...
Partiste como quem interrompe a vida, os sorrisos, os sonhos e há silêncios cortantes no frio da pele, o vento agreste teima em sacudir a nossa história como se o horizonte escrevesse os dias e apagasse as noites para te trazer de novo à Luz.
Ainda te espero em cada alvorada, como quando ouço o canto dos pássaros que migram, como quando sinto o perfume silvestre das flores na pradaria, como quando o sino tine e bate as horas que escuto em sobressalto, ainda toco nas lembranças e ouço o eco dos teus sorrisos como folhas gastas espalhadas pelo tempo.
Ainda sorrio quando te ouço os passos, meu amor.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros