<><><><><><><><><><><>
oh, se cá relampeia
e a brasa não incendeia
as carcundas e barrancas
do rio espelhado
e se turva à tarde mansa
que o tempo tem desenhado
ah, quem já se volteia
e margeia os olhos pro'utro lado
d'água que esperneia
tecendo teia
armadilha no descampado
ah, se cá relampeia
todo medo no meu coração
se nem inda é estação
da chuva molhar o prado
muitos barcos passaram
muitos têm me levado
ó caminho d'água
tão longe norteia
meu curto legado
ah, se vejo o rio bufante
num turvo entardecer
dum céu que pranteia
mais pranteia meu enfado
ah, a bicharada se esconde
cada qual com seu manto
nas tocas-locas-cantos
em quietude de Santa Ceia
silvo agudo de vendaval
iara num canto de sereia
ó temporal
que me furta o viço
desta terra ser amante
desde sempre doravante
bicho dos bichos
crio asas fugidias medrosas
ao rio caudal que coleia
brindando a mais um verão
de-tristeza-pé-no-chão
que minha coragem
apoucada receia
oh, se cá relampeia
e a brasa não incendeia
meu fervor temporão
assim como a vida
a natureza pra ser linda
por momentos se enfeia
fecunda à (re)criação
****
***
Rehgge Camargo_________________________________

"o poeta absorve, filtra e exala."