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aos rios do meu corpo

 
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meus olhos não deixam adormecer
os rios do meu corpo
e os pensamentos chegam de longe
como aves migratórias
avançam em alarido
contam-me histórias
acalmam-me o peito
em milagre adormecido,
preenchem-me o vazio das horas
fazem-me me ver a luz que perdeu a cor
e sem demoras, volta a mim o amor

viver, viver é tudo o que quero
importa-me o riso da flor
o marulhar das águas
a lua cheia, o sol-pôr
a luz do dia
o silêncio da noite
o murmúrio da humanidade
a nostalgia
- e a saudade.

e espero.
no caminho, clara luz
e nas janelas da insónia
olhar o infinito
sentir o brilho do júbilo e da
loucura
esquecer os olhos do esquecimento
aos rios do meu corpo
chegar de novo o alento.

natalia nuno
rosafogo



Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang Von Goethe



 
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rosafogo
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Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 05/07/2023 11:27  Atualizado: 05/07/2023 11:27
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Localidade: Brasil
Mensagens: 16148
 Re: aos rios do meu corpo
Adorei a metáfora dos pensamentos semelhantes às aves migratórias! Lembrei-me de uma passagem em texto de Machado Assis. relata o delírio de um moribundo ao encontrar a Natureza.


"-- Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.

Ao ouvir esta última palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o efeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das cousas externas.

-- Não te assustes, disse ela, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se afirma. Vives: não quero outro flagelo.

-- Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar-me da existência.

-- Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dor e o vinho da miséria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciência reouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver...."