Teço o dia com as malhas finas da paciência, dou um puxão à tolerância e subo as escadas do sol, bebo o pensamento com os olhos pousados no som alucinante do dia que me chama.
Uma espécie de vertigem entorpece-me os passos, paralisa-me os músculos, nervos e tendões, não é a inércia, nem a vontade de ficar quieto, é a impossibilidade de ir, como quando se escuta o veredito que paralisa o caminho.
Sim, há sempre um cântico suave perante a voz relampejante do infortúnio, uma dor lancinante a percorrer as células, mas a alma sorri ao estender a compaixão dentro da longanimidade.
Que palavras serão necessárias, que vozes deves ouvir ou calar? Há muito tempo que sabes o caminho de volta a ti, quantas vezes precisarás sair de ti e entrares, para te voltares a encontrar?
Desço a avenida com a voz do pensamento e repouso a Luz nas paredes da cidade, há olhares vazios, gente que se arrasta e afunda na leitura que faz da sua própria realidade, vozes internas a paralisar as emoções e os outros, portas fechadas por dentro, gigantes a crescer no pensamento e há um mártir em cada esquina a assombrar o próprio caminho.
Olho e recolho-me, não há quem ouça, não há quem escute, só há quem grite.
Sinto o pulsar da vida trazer a mim a realidade e dentro do que me é possível, sonho, sonho de olhos abertos com Luz própria, fecho os olhos e respiro a magia de permanecer inteira.
Alice Vaz De Barros
Alice Vaz De Barros