Desde menino sonhava,
Queria uma namorada bonita,
Uma família feliz,
Casar um dia na igreja.
Sonhava porque havia sempre
Em mim
Um círio a queimar,
Um devoto a orar
E uma canção de amor
Sob a luz do luar.
Sonhei até ver
Os amantes repousando
Num leito de pedra,
Até ver o desespero
Dos que naufragam em alto-mar,
Hirtos esqueletos
Jazendo em meio a algas e trevas.
Hoje, não sonho mais
Como menino;
Sei que engano e minto
Como se quisesse conter
Meu choro após o grito,
O lume do círio
Agora extinto,
Um mar que me afoga
Bravio.