Textos :
Duas Garotas Russas (Sketch 13)
Duas Garotas Russas Sonhadoras
A cena se passa em Moscou, Rússia, no inverno de 1919
Cena Única
Uma sala ampla com três sofás, dois armários, seis quadros na parede, um piano, e diante do sofá vemos umas duas pilhas de livros. Há uma janela com uma cortina de cor esmeralda, a janela está entreaberta. Em cima de um dos sofás vemos um rifle. Nos dois sofás há duas garotas deitadas, com as mãos na testa. Uma se chama Annuva, veste um vestido de cor preto, e um colar. Ela tem uma fita azul no cabelo. A outra se chama Aglaya, ela veste um vestido de cor vermelho cardeal. Ela tem um belo rosto, olhos verdes e cabelos ruivos. Ela fica fazendo círculos com o dedo no ar.
Aglaya- Nunca pensei que este dia fosse ser tão longo. Ele simplesmente não passa. Por que não pode passar mais depressa?
Annuva- Porque deve ser o pior de nossos dias. Claro, não há nada de fantástico e ilusório aqui neste dia. Oh, e não pensamos em cinquenta coisas estranhas hoje.
Aglaya (fazendo círculos no ar com o dedo) - E eu que não estive em sonho nenhum hoje. Oh, apenas nas páginas dos velhos autores.
Annuva- Espero que de noite possamos dar vazão a todos os nossos sonhos. Esse dia! Oh, ele poderia morrer já!
Aglaya- Sim, morrer... Morrer como o gato que imaginei um dia que vivia comigo em uma cesta linda, mas que não miava!
Annuva- Pobrezinho! Um gato que não mia! (Levanta-se, vai até o sofá em que há o rifle, pega nele, desliza o dedo nele todo) - Mas o cãozinho que sonhei era bem atentado! Ele merecia uns belos tiros no traseiro (Vai até a janela, olha para fora) - Oh, lá vai Lalia novamente com essas malditas pastas! Ela não para de espionar o governo russo! (Vai apontando o rifle para fora, depois desiste, e volta ao mesmo lugar, deita no sofá segurando o rifle).
Aglaya (fazendo quadrados com o dedo no ar) - Aposto que só há Zadnitsa e skuchnyy por toda parte. Ah, mas minha mente está muito parada. Onde estão aquelas imagens evanescentes que tanto adoro?
Annuva- Hoje minha mente está totalmente bloqueada, minha cara. É como se... (Coloca o rifle no chão, se levanta, dá alguns passos pela sala).
Aglaya- Sei como se sente. Hoje é um dia que nossas imaginações estão realmente falidas.
Annuva (vai até a janela, fica olhando a rua com um olhar de nostalgia) - Talvez seja apenas minha melancolia, ou talvez uma lembrança de alguém que tanto amei.
Aglaya- Eu tenho apenas sonhos... Você se lembra de nossos sonhos, não?
Annuva (ainda olhando para fora da janela) - Claro, viveremos uma revolução em que vamos limpar a arte e a educação desse país, e também derrubar os corruptos e assassinos dessa máquina burocrática!
Aglaya (bate palmas) - Ainda bem que ainda te lembras...
Annuva (volta para junto do sofá) - O que fizeste com aquele pé de coelho que deixei em meu quarto?
Aglaya- Está junto do meu. Na verdade, eu acho que precisamos de mais quatro.
Annuva- Um apenas é o suficiente, doidinha. (Sorri)
Aglaya- Vou pegar o rifle e treinar alguns tiros. (Levanta-se do sofá, pega o rifle, se afasta da amiga e vai até um canto e começa a atirar na parede. Ela acerta dois vasos e um tiro vai na parede) - Nossa! Como melhorei minha mira!
Annuva bate palmas.
Annuva- Provavelmente sonhaste que estava melhorando sua mira, e eis agora que sua mira está melhor.
Aglaya (segurando o rifle, faz algumas gracinhas com ele. Carrega ele e dá mais dois tiros) - Pronto, meu treino está completo (Ela coloca o rifle perto de uma mesa).
Annuva- Gostaria de sair, mas está tão frio... Eu detesto o frio.
Aglaya- Já eu adoro, mas hoje está um tempo horrível. Acho que teremos que passar aqui mesmo em casa.
Annuva- Sim, a confabular como convenceremos a participar de nossa revolução.
Aglaya- Pela palavra escrita com certeza não será! Teremos que chamar nossos amigos revolucionários.
Annuva- Não te lembras que a maioria deles já estão presos?
Aglaya- Ainda há uns quatro ou cinco. Eles nos servem.
Annuva- Nada, o que sobrou são todos ruins. Precisamos realmente agir sozinhas ou então recrutar agentes.
Aglaya- Como se fosse fácil. Todos parecem adormecidos. (Deixa-se cair no sofá).
Annuva- Ag, eu acho que seria melhor sairmos um pouco. Preciso te mostrar uma fonte belíssima no norte da cidade. Ela pode realizar nossos sonhos.
Aglaya- Oh, excelente ideia! Eu estava começando a me tornar realista demais aqui.
As duas saem juntas. Ouve-se um barulho de pratos caindo em outro lugar. O pano desce.
FIM
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