A vida é um instante, um só estalido para quem está só
Antigas imagens surgem na retina, no poço da memória
Verdes fulgores a reverberar os artifícios d’outros dias
Ah esses tempos d’antanho tão cheios de vida e morte
E agora apenas uma selva, uma escura selva de silêncio
Em que o sol inútil e inadvertidamente buscou refulgir
Instantes de sobrevoo petrificado a acariciar o verdor
E no som dos córregos para embalar o sonho das feras
Nas lendas que em tempos antigos corriam qual os rios
Diziam haver um amor, maior que a escarpa das serras
Inesquecível como o sabor do vinho das uvas maduras
Um amor que me foi uma flecha, fulminante e certeira
Do arco retesado partiu, para ir sulcar o ar sem ruído
Varar meu peito e se entregar para fazer-me vencedor
Enquanto as chamas do crepúsculo investiam à janela
E tu, manhosa, descansavas tua cabeça em meu peito