Eu te quero poesia
Eu te quero prosa
Eu te quero poema.
Sou verso ao inverso
Universo convexo
Sexo uno.
Sou linha, acorde, travessão
Travesseiro do seu espírito
Trauma, trema, poema.
Tosse a estrofe monossilábica
O estribilho da nova canção
Que narra a velha metáfora
De uma aranha metálica
Arranhando a unha no chão.
A barra do dia
A garra da noite
O nó górdio
O "é" da coisa
O pingo no "i"
A espada de Alexandre
O cavalo de Napoleão
O sonho de Buda
O Asno de Balaão.
O suicídio de Karenina
O Negro de Sthendal
O mouro de Shakespeare
A proposta de Anaximandro
A resposta de Tales
A caverna de Platão
A prostituta de Jack
Os banidos de Dickens
A rodovia de Kerouac
Os medos de Stephen King
A Biblioteca Internacional
Das obras Célebres.
Tem literatura, tem.
O poema tem poesia.
A prosa tem sinestesia
A Rosa de Hiroshima sinestésica.
O eco da Rosa do Humberto de Campos
A Capitu de Casmurro
O capítulo perdido de Gógol
Os Pequenos Burgueses de Gorki.
As valquírias de Coelho.
Tem poema na linha
Tem verso na criação
Tem lágrima no poente
De quem a poesia sente.
E o poeta torce
A estrofe
Num tipiti tupinambá
E bebe desta água
E deste cauim
Assim se embriaga
De versos e de saberes
Pois o verso é suor
E o sangue do profeta
É o suor do poeta
Que é dado por vós.
Quando o poeta reconhece
Ele retorce o nariz
Dá na testa um piparote
Embrulha o papelote
Risca, apaga, chora e sorri.
É suor sagrado
É poema cantado
Serpente no Paraíso.
É descida do Sinai
Quebra de tábuas
Adoração e erro
O Carvalho e o Bezerro
De Alexandre Soljenítsin
É desejo de Gaivota
De Fernão Capelo
Do paraíso pessoal
De Richard Bach.
Não me queira magoar
Você que não soube
Ter-me.
Não roube
O meu ser.
Sou sol
Sou sal
Sou céu
Sou seu.
E no poema tem sebo
Tem lembranças frutíferas
No poema tem música de Verlaine.
Tem vício de Baudelaire
Tem saber de Voltaire
Sabiá de Gonçalves Dias.
Fui gigante em Liliput
Metamórfico Kafka
Morri com Ivan Ilitch.
E renasci em Stern.
Tem poema de Drummond
Um verso de Adélia
O Quinze da Queiroz
A queda de Ismália
Que enlouqueceu
E se pôs em torre a sonhar
Que viu uma lua no céu
Que viu uma lua no mar...
Álvares viu uma falua
Ulisses, o ciclópico Polifemo.
O que difere o remédio do veneno
É a posologia.
A distinção da poeta e do pateta
É a manifestação da poesia.
Venha, poesia,
Vestida de poema
Festiva pela vida
Debutante em primícias primaveris
Para coroar de flores as nossas linhas!
E este poema já vai crescido
Nasceu de um grito
Perdido
Nasceu de um querer
De um coito profundo
Do sêmen da pena
Com útero do papiro.
Eu quero poema.
Eu te quero Literatura.
Eu te amo, Poesia.
Gyl Ferrys