Era uma leitora desnuda, desviada do texto, vê o poeta
Sobre o tapete arrasta seus joelhos pelo centro da sala
Dói-lhe o cotovelo e a língua escoriada órfã de palavras
Envolta nas folhas do livro, pensa na estrela supernova
Que explode para nascer e só tem brilho quando morre
A leitora, num átimo, abstrai do poeta e mira no poema
Morta da sede de saber meio a um oceano de conhecer
Se imagina a flutuar na água fria, espera chegar a noite
Desejando houvesse ao seu lado um corpo p’ra abraçar
Está pronta para absorver o ócio de um homem sozinho
Mas olha-se o desejo e logo se subjaz que é vulgaridade
Cada trajeto tem um itinerário escrito em coordenadas
Nos campos floridos de marte e pelas ruas das cidades
Que tanto pode ser uma declaração de amor ou guerra
Que é da exata medida entre o que se quer e o que tem
Não deveria ser eu a habitar esse pensamento intimista
Com o meu gosto por uma ordem abstrata nas relações
Como um flash fugaz de ideia, no limite da consciência
Uma música que toca na cena soando alta e estridente
Porém dia após dia te espero, na porta de meu eu vazio
E só pra constar, te desejo o dobro do que me desejas!