Escutava-se um alarme obsceno e brevíssimo
Que insiste despertar-me com só uma palavra
Na simulação de uma amordaçada liberdade
Um ou dois sonhos suspeitos se fazem impor
Uma nada breve chuva que cai sobre acácias
O pesadelo vem visitar inusitadas geometrias
E hexâmetros perfilados na inutilidade diária
Vêm me resgatar da mesmice de certas linhas
A manteiga está fria, o orvalho cai em espiral
E sob a toalha, repleta de crocantes migalhas
Está a mesa onde virei rabiscar meus escritos
Ao jornal com pequenos espaços d’annunzios
Ainda se exige alguns bocejos antes do papel
Como a chuva, para essa insondável sucessão
Das manhãs de outono que vêm me roçando
Pressentidas, quase dolorosas e desgarradas
O cheiro peculiar do tisnado café indaga-me
Perscruta e cerca-me com mil braços de Kali
Eu lhe direi que é só do gozo que me lembro