Tudo já aconteceu,
Pois acontece e acontecerá
No mesmo tempo
Todo o fluxo já passou
E ainda passa e passará
Neste exato momento.
Toda a hora sempre chega
Porque já passou.
Por isso, somos agoirentos.
O tempo é um rio parado
Embora haja tanta gente
Afogada e sem alento.
E, mesmo estático,
Vivemos ardentes
Em meio a tantos tormentos,
Porque, mesmo parado,
Vivemos na aparência
De discursos e argumentos,
Na ilusão de calendários,
Dias, anos e minutos
Em meio a sonhos e dezembros,
Porque, mesmo cumpridos
Seu destino e fado,
De nada sabemos.
E o que há somente
É a luz que dilata
Distâncias e comprimentos,
Tudo o que vemos
É o para além dos nossos olhos
Do chão ao firmamento.
Assim não o sentimos
Como insensível cristal,
Mas como nosso tegumento,
Por isso não o sentimos
Como massa inerte de gelo,
Mas torrente ardente de tempo,
Ou, mesmo parado,
Como solo livre do sólido,
Pântano lutulento
Onde afundamos,
Onde morremos e nascemos
Na ilusão dos fragmentos,
Porque o tempo é um todo,
Rio sem fluxo ou corrente,
Congelado movimento,
Aquilo que muitos confundem
Com a existência
De algum ser eterno e supremo.