Poemas : 

A noite que choveu insónias

 



Desarrumar metáforas
subir à tónica da palavra
abrir janelas a jardins de luz
e de vento

banir do poema as brumas intocáveis
da noite que choveu angústias
e insónias

[ movimentos circulares em areais vulneráveis
ausência amarga
a acender urgências ]

Sonhar brilhos de espumas
na rebentação das ondas

quebrar solidões
com relógios de sol
e panos verdes.




 
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maria.ana
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/05/2023 11:06  Atualizado: 23/05/2023 11:13
 Re: A noite que choveu insónias
Há quem faça a diferença
Da diferença que se quer
Apoiados pela experiência
Seja de homem ou mulher


Cumprimentos


Enviado por Tópico
Liliana Jardim
Publicado: 23/05/2023 11:43  Atualizado: 23/05/2023 11:43
Usuário desde: 08/10/2007
Localidade: Caniço-Madeira
Mensagens: 4420
 Re: A noite que choveu insónias
...quebrar solidões
com relógios de sol
e panos verdes.

Gostei de te ler poetisa

Beijinhos Ana


Enviado por Tópico
Odairjsilva
Publicado: 24/05/2023 00:12  Atualizado: 24/05/2023 00:12
Membro de honra
Usuário desde: 18/06/2010
Localidade: Cáceres, MT
Mensagens: 5303
 Re: A noite que choveu insónias
Uma bela construção poética. Gostei muito. Abraços poéticos!!!


Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 26/05/2023 21:37  Atualizado: 26/05/2023 21:37
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 642
 Re: A noite que choveu insónias
Gostei da leitura como sempre.
Abraço, Maria.


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 30/05/2023 04:01  Atualizado: 30/05/2023 04:01
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 2123
 Re: A noite que choveu insónias
As primeiras duas estrofes são invejáveis.
O poema, no seu todo, aborda a poética. Muito ao teu estilo.
Encheu-me as medidas.
Ainda vou ter de voltar a ele.
Falta-me a ponta do novelo.

Abraço


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 16/06/2023 14:44  Atualizado: 17/06/2023 05:58
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: A noite que choveu insónias
De livro, é como começas este poema.

Infinito.
Arrumar é uma das possíveis de encontrar, ou obter. Embora não me pareça que faça parte do estilo de escrita do autor.

No primeiro verso, o infinitivo do verbo procura esse infinito.
A negativa, adiantada pelo Des do “...Desarrumar...” é o primeiro des-engano que nos é proposto.
Cada verso da primeira estrofe, tem essa acção, o verbo no infinitivo, que sendo repetida, torna-se um pouco desenfreada.

As “...metáforas...” são seres muito sensíveis.
Há dicionários, e entendidos nelas, mas o que delas se sabe, é que apesar de pertencerem ao senso comum, elas também podem ter sentidos impensáveis e destinatários. Meta fora.
A forma mais fácil de precisar a sua importância, é não ser literal.
É uma maneira de se dizer. É uma comparação, sem “como”. Um floreado.
Se arrumar “...metáforas...” não é fácil, correndo-se, por exemplo, o risco da repetição, ou de simplismo, o “...Desarrumar metáforas...” procurando, por exemplo, originalidade, é um exercício para toda a vida. E nada fácil.
Como a metáfora pode ser uma desarrumação, estamos perante um pleonasmo no primeiro verso.

Depois, no segundo verso, há o uso do verbo “...subir...”.
Há um esforço nisto.
A “descer todos os santos ajudam”, e na subida, o cansaço pode desmotivar. Mas o verbo usado, apenas sublinha o objecto.

A “...palavra...” é um ser vivo, em constante construção. Ela chega, nestes dias, já nesta forma prática e escrita, mas teve um passado e terá um futuro que nos ultrapassará largamente.
Tem a utilidade que se reconhece, mas pertence, sobretudo (no nível de importância), ao domínio do pensamento.
Mais do que ser aquilo que conhecemos dos outros (além do seu aspecto físico), é também o que conhecemos de nós. E damos a conhecer. Daí ser importante ter “...palavra...”.
A “...palavra...” pode ser uma vogal, ou ser todo o escrito, alguma vez escrito.
A sua “...tónica...” é a sua expressão mais forte. Com tónus, músculo, força, vibração.

O “...abrir...” no terceiro verso, mantém o curso do poema na positiva. Elevado.
A abertura, é feita de “...janelas...” a elementos da natureza, que são transformadores.
Os “...jardins...” são, geralmente, elementos de beleza, coloridos, perfumados, mas também trabalhados (o jardim tem sempre o jardineiro, ou será bosque).
A junção “...jardins de luz...”, transmite essa intensidade e harmonia, associada às ideias, à claridade, à verdade, se quisermos.
Menos comum é jardins “...de vento...”.
O dito, é duma capacidade transformadora enorme. Onde toca o vento há mudança, crescimento, ou erosão.

O que nos é proposto na primeira estrofe!...
Magnífica.

A segunda, justifica a primeira.

Mas começa num tom diferente.

Mantém a forma verbal, mas o verbo “...banir...” parece demasiadamente diferente, dos de até então.
Até o “...desarrumar...”, foi mais delicado.

O ritmo é diferente, menos pausado, devido à redução do número de verbos; dá para ler duma só vez, e ficar com um “decrescente fértil”.

Uma chuva de “...angústias...” deve fartar de molhar. Deve ser miudinha. A encharcar tolos...
A ligação “...brumas...” e “...noite...” choca de frente com os mais ordeiros e belos “...jardins...”.

Mas, o “...poema...”, é, também ele, um antídoto. Um lenitivo que surge nas “...angústias...”.
A arma e a armadura.

A segunda estrofe, que encontra o título, sobejamente poético, marca uma missão, que não é fácil de perseguir.
E persegue o sujeito poético.
Na “...noite que choveu angústias
e insónias...”
Mas, para isso, terá que se livrar d“...as brumas intocáveis...”

A definição de “...brumas intocáveis...” é brilhante, no parênteses recto, em forma de estrofe, também.

A arma é o “...sonhar...”, lembrando muito, um pouco, a "Pedra Filosofal" de António Gedeão.
Mas, também, “...quebrar (num registo um pouco mais violento) solidões\com relógios de sol...”

E “...panos verdes...” (será do verbo ver?).

Vamos a jogo?

Como é fácil de perceber, um poema cheio de riqueza interpretativa, de figuras de estilo que cada leitor deve desvendar e escolher, que favoritei sem hesitar, que deambula sobre o mote, a inspiração e a responsabilidade da poesia.

Abraço irmã