Repousado sobre o outeiro
(Vistas velhas e cansadas)
Chora o velho marinheiro
Ao olhar as enseadas.
No vetusto rosto lasso
Marcas do sal e do sol
Tatuado no seu braço
Um galeão espanhol.
Barba longa e cristalina
Balançando na cadeira
No peito a medalha brilha
Ganhada em longa carreira.
E vendo o sol no poente
Morrendo em berço marinho
Lembrança em ondas na mente...
Tardes tristes tão sozinho.
Labuta eivada de histórias
Na parede da memória
Ilha de Chipre, Sicília,
Madagascar e outras ilhas.
Sendo só resiliência
Em seu trabalhoso ofício
Cumpriu com seu compromisso
Hoje só reminiscências.
Lembra do Farol de Creta
Da morte do albatroz
Naquela noite indiscreta
Em que ele fora o algoz...
E lembrou dos sete mares,
Das formosas raparigas
Da fúria das tempestades
Em terras desconhecidas.
Balançando na cadeira
Olhos longe no infinito
Apertando a pederneira
Pra acender o seu cachimbo.
Morre o dia e a noite vai
Na memória afetiva
Lembrança daquela vida
Que não volta nunca mais.
Entra a noite em lua cheia
E no peito uma saudade
Ondas brincam com a areia
Luzes, longe, na cidade.
Gyl Ferrys