Naquele tempo, uma barra de sabão azul e branco a par do petróleo para o candeeiro, das mercearias e do bacalhauzito que se trazia da taberna, quer fosse a do Eduardo ali na aldeia ao lado, ou a do Artur do correio na Benfeita, bem como a do Nunes à praça e ao Domingo depois da missa, era tão natural como hoje se chegar ao café do Arlindo das Luadas e se mandar vir uma bica ou uma serradura fresquinha. Coisa que naquele tempo nem havia. De maneira que, lá se cortava um pedaço grande quando já só umas lascas, boas para dar às garotas que acompanhavam as mães, se entreterem a lavar as peças miúdas. Um alguidar cheio de roupa, à cabeça ou de braçado e ala para o lavadouro por via de lavar a roupa suja... Os lugares melhores, quase sempre ocupados pelas mesmas, a darem uso às pedras esfregando-lhes e batendo de vez em quando, a roupa enterriada das fainas da terra. Falaças e gargalhadas mas também lamentos e choros e até corte e costura da vida alheia... Tudo se lavava no lavadouro da minha aldeia. Uma sabonária para a roupa branca que por ali ficava dois ou três dias a diluir o sujo, até haver oportunidade, entre os afazeres domésticos e os do campo, para ali voltar por modo de a voltar a esfregar e a que estivesse mais custosa, deitar a corar na relva do quintal ou nos muros e em casos mais graves, então lá se fazia, por fim, uma lixívia para branquear melhor. Eram precisos, portanto, vários dias para lavar a roupa de uma ou duas semanas de uma casa de família composta por meia dúzia de pessoas ou mais. Hoje, nem pessoas nas casas a sujarem roupa, nem mulheres para a lavarem, nem água no tanque...
Cleo