Poemas : 

Transcendência

 



O céu como temporal
sobre o atrito da rua lenta
enquanto escondo o frio
nas mãos
e aqueço as aves
nas palavras.

Todos os dias o sol
a nascer
e eu, ao canto da sombra,

[viagem adiada]

mudez estranha retraída na obscuridade
dos olhos.

Talvez me aguarde o tempo
de transcender numa metáfora
a trajetória
de um corpo quebrado, ofegante
depurado na dimensão triangular
da claridade

e aceitar como um incêndio as águas que caem
por dentro do silêncio espesso
de vozes mutiladas.

Hei de, quem sabe, regressar à memória de Deus
lugar e tempo
que me dói, e que me dói, na chama
que se apaga na sala
e, secretamente insubmissa, me reclama
árvore, pássaro, alma, apenas

seja na ilusão de urgentes nuvens incandescentes
ou na espera incerta da projeção da luz
como imagem da casa.






 
Autor
maria.ana
Autor
 
Texto
Data
Leituras
346
Favoritos
5
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
62 pontos
6
8
5
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
HorrorisCausa
Publicado: 22/05/2023 09:59  Atualizado: 22/05/2023 09:59
Administrador
Usuário desde: 15/02/2007
Localidade: Porto
Mensagens: 3764
 Re: Transcendência p/ maria.ana
olá maria.ana

por todos os atritos,obstáculos, até opções mais ou menos conscientes...a imagem "casa" o tal lugar a salvo onde sempre se pode pousar a mochila. é a meu ver algo transcendente.

...como é bom voltar a casa.

e...como é bom ler este escrito. estou em casa.

atenciosamente
HC


Enviado por Tópico
Odairjsilva
Publicado: 22/05/2023 10:14  Atualizado: 22/05/2023 10:14
Membro de honra
Usuário desde: 18/06/2010
Localidade: Cáceres, MT
Mensagens: 5303
 Re: Transcendência
Uma linda construção poética. Gostei muito! Abraços poéticos!!!


Enviado por Tópico
rosafogo
Publicado: 23/05/2023 13:54  Atualizado: 23/05/2023 13:54
Usuário desde: 28/07/2009
Localidade:
Mensagens: 10799
 Re: Transcendência
Há horas em que pensamos com veemência do que já não volta, mas há sempre algo a mudar o rumo, e esse é o motivo porque sobrevivemos às fragilidades que vão aparecendo, haverá sempre em nós um raio de esperança.

Gostei de ler este sabor nostálgico.

bj.