No palco, vemos duas divisões bem claras. Uma porta fechada e outra parte livre. Na parte fechada, um homem chamado Félix está tocando. Ele já está lá há quase duas horas. Sua mulher, Lilian, bate na porta.
Lilian- Querido, você já está aí há quase duas horas, e não comeu nada hoje. Pare de tocar um pouco e venha comer (Ouvimos o barulho do piano sendo tocado. Lilian bate mais algumas vezes e Félix continua tocando. Ela desiste de chamá-lo e sai.)
Pelos próximos cinco minutos ouvimos Félix tocar, quando outra pessoa, dessa vez sua filha Mary começa a bater na porta.
Mary- Papai, a mamãe insiste que você saia da sala e se junte a nós. Titio e titia estão aqui. (Continuamos ouvindo o som do piano sendo tocado. Mary sai).
Passam-se agora dez minutos e continuamos ouvindo a música sendo tocada. Ela não para por um segundo. É como se Félix não cansasse nenhum pouco. Vemos um homem bem vestido entrar em cena. Ele se chama George, é irmão de Félix. Ele bate na porta insistentemente.
George- Meu irmão, por favor, precisamos conversar assuntos importantes com você. Não é apenas sobre a sua estada aí, precisamos conversar sobre os próximos concertos (Nenhuma resposta, mas o piano continua tocando. George desiste e vai embora.)
Passam-se mais dez minutos e duas pessoas vem chamar Félix.
Pessoa I- Senhor, insistem que você saia dessa sala. Parece que realmente você não está me ouvindo. Você está me ouvindo? (Félix não diz nada, mas o piano continua tocando).
Pessoa II (a primeira pessoa) - Deixa, daqui a pouco ele sai.
Pessoa I- Por favor, senhor Félix. Saia um pouco desse lugar. Sua mulher quer muito vê-lo.
Nenhuma resposta. Apenas a música. Eles dão de ombros e vão embora.
Mais cinco minutos passam e mais três pessoas chamam e batem na porta, mas a música é apenas o que ouvimos. Por quase dez minutos apenas ouvimos a música tocando sem parar. Logo as luzes começam a enfraquecer e o palco fica completamente escuro por mais dez minutos. Quando a lu acende, há sete pessoas no palco. Todas extremamente preocupadas. O tempo se passou de uma semana.
Lilian (a um homem vestido de enfermeiro) - Por favor, abra a porta de qualquer jeito.
O enfermeiro vai até a porta e abre-a com força, logo vemos o enfermeiro trazendo Félix nas costas. Ele está abatido. Lilian chora um pouco. Todos muito surpresos.
Lilian- Vamos levá-lo ao hospital, o mais próximo que tiver.
Félix- Oh, estava chegando a perfeição das Rapsódias de Liszt! (Fecha os olhos).
Todos saem de cena, mas ainda ouvimos o piano sendo tocado. As luzes se apagam e o pano desce.