Textos :
Duas Damas na Janela(Sketch 4)
Duas damas na janela
Cena única
Data: 1934. Rússia. Uma sala com uma mesinha de centro, uma porta lateral, um armário onde se guarda pratos, xícaras. Umas quatro cadeiras e uma janela ao fundo. As duas mulheres são jovens. Uma se chama Ludmila Vishenko e a outra se chama Lalia Vasilisky. Há um sofá no centro do palco com um rifle Mauser model 71. As moças estão na janela.
Ludmila- Oh, que dia aborrecido. Nada realmente para olhar nessa maldita rua que parece que nunca há ninguém.
Lalia- Apenas pessoas que já conhecemos há séculos estão passando perto de nossa casa. Eu pensei que esta seria uma semana interessante de ficar na janela.
Ludmila- Ontem pelo menos vimos uma briga de um velho bolchevique embriagado. Ah, como era interessante como ele esmurrava um jovem franzino.
As duas riem bastante.
Lalia- Mas também aquele dia em que a senhora perdeu duas galinhas na rua foi interessante ao seu modo, Lu.
Ludmila (com orgulho) - Oh, aquilo é bobagem. Um Vishenko não gosta de bobagens, mesmo que seja em um dia comum numa rua esquecida dessa maldita Rússia.
Lalia- Oh, calma, eu estava apenas comentando. Você sempre quando se fala de acontecimentos comuns fala de sua família.
Ludmila- Porque somos realmente assim, e não gosto realmente desses acontecimentos de nada com coisa alguma.
Lalia- Nenhuma morte nos últimos quinze dias. Isso é a pior notícia que posso ter.
Ludmila (suspira, passa a mão no vestido na altura do colo) - A mim também. Exceto alguns boatos que recebo em cartas, nada substancial. Nada que realmente seja... (Estreita a vista) - Oh, por que esse garoto com jornais está me olhando insistentemente? (Sai da janela apressada e vai até o sofá e pega o rifle, volta para a janela e aponta para fora o rifle. Ouvimos um grito de susto) - Pestinha comunista! (Fica segurando o rifle, coloca-o atrás dos ombros, logo se cansa e coloca de volta o rifle no braço do sofá e volta à janela).
Lalia- Que pestinha maldito! Talvez seja um dos que esteja nos espionando para contar aos cossacos e ao Comintern. Arre, como se fôssemos realmente uma ameaça para a besta do Stálin!
Ludmila (Olha para trás para o rifle) - Não tenho remorso nenhum de matar um vermelhinho. Principalmente um espiãozinho.
Lalia- Você acha que ele realmente sabe algo de nós? Quero dizer, os vizinhos fazem muitas perguntas...
Ludmila(confiante)- Oh, estes vizinhos são estúpidos. Podemos contar uma verdade a eles e eles se esquecem no dia seguinte.
Lalia ri bastante. Ela ajeita os cabelos e olha para o próprio reflexo no vidro da janela.
Lalia- Oh, olha aquela moça bela. Ela anda com graça, mas parece absorta demais. No que será que ela realmente pensa?
Ludmila- Melhor eu não dizer no que ela realmente pensa(Ri)- Oh, mas que homem mais feio que passa. E que ar petulante!
Lalia- Oh, meu Deus, uma pessoa me mostrando o dedo (Vira-se furiosa e vai até o sofá e pega o rifle que lhe escapa da mão, ela se abaixa e pega o rifle com força e segura com firmeza, ela vai até a janela e dá dois tiros. Não sabemos se atingiu a pessoa, porém nada acontece. Nenhuma sirene de polícia é ouvida). - Zadnitsa!
Ludmila (satisfeita e ri) - Oh, Céus, você realmente quase acertou o Zadnitsa. Ele nunca mais irá esquecer esse seu pedido de ajuda! (Ri sarcasticamente).
Lalia (segurando o rifle, expressão de ódio) - Hoje parece ser um dia que realmente o rifle irá cantar algumas sinfonias à la Glinka.
Ludmila ri bastante.
Ludmila (olhando para a janela) - Oh, como a rua está um caco. E aquela neve que não foi retirada ali naquele canto esquerdo?
Lalia (leva o rifle novamente para o braço do sofá) - Esses trabalhadores são horríveis. Ninguém realmente mais se importa em criar um trabalho decente. (Volta para junto da janela).
Ludmila- Hoje realmente é um dia que a rua está um quadro tolo e estúpido (Se encosta mais na janela, suspira).
Lalia- Oh, olhe Lud, um homem te enviando beijos.
Como sempre a raiva de Ludmila a faz sair da janela, pegar o rifle. Ela carrega o rifle e corre até a janela e atira para cima. Ouvimos um barulho do homem falando Maluca!)
Ludmila- Ainda bem que temos bastante munição. E a polícia? Oh, a polícia não vem neste bairro nem mesmo se a vida deles dependesse disso (As duas riem) - Mas que droga, por que toda hora alguém está nos importunando?
Lalia- E estávamos reclamando há pouco do tédio na rua. Mas claro, o nosso trabalho tem esses dias. Esses dias em que tudo parece estar congelado, numa expectativa absurda. (Ludmila consegue jogar o rifle no sofá que cai certeiramente no braço).
Ludmila- Você sabe, só temos mais cinco minutos...
Lalia- Ou dez, ou vinte. Nesse bairro o tempo parece que se multiplica. (Olhando pela janela, ela vê um homem mostrando a bunda. Novamente vemos Lalia indo até o braço do sofá e pegando o rifle) Dubinka! Lá vamos nós de novo! (Vai até a janela, aponta o rifle e atira, ouvimos o grito do homem de dor, sorriso perverso de Lalia).
Ludmila (suspiro tedioso) - E é isso que teremos que focar para contar quando sairmos daqui. Oh, como a vida é realmente absurda em um país dominado por brancos e vermelhos. Talvez esse país seja a terra das Maravilhas!
Lalia (estranhando o que ela fala) - Oh, este país é tudo menos isso! (Ainda segurando o rifle) E vamos ver qual será o próximo engraçadinho que terei que usar este maravilhoso rifle criado pelas mãos de um deus encantador.
Ludmila- Provavelmente nenhum. Vamos, Lalia. Está na Hora.
Lalia (segurando o rifle) - Oh ok. Vá até o armário e pegue nosso material.
Ludmila vai até o armário, agacha-se e abre as portas e pega seis pastas cheias de folhas. Ela fecha as portas do armário. Levanta e segura as pastas.
Ludmila- Vamos, krasiyyy. Não temos mais tempo.
Lalia se aproxima de Ludmila com o rifle as duas começam a sair. Em off ouvimos um homem discutindo com elas. Ouve-se um tiro de rifle.
Ludmila(off)- E com as pastas para a embaixada da Lituânia que estamos atrasadas há quase dois dias.
FIM
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