Eu acredito que sempre soube que, comigo, seria assim.
Que iria virando esquinas, mas que jamais esqueceria as ruas,
e que os tons cinza, como mapas encardidos nas paredes nuas,
trariam consigo os risos ocultos das outras cores, por fim.
Com essas cores fui pintando a imagem da cidade conhecida,
decompondo-a nos detalhes de cada revelado recanto,
sentindo-lhe o pulsar subterrâneo e o vigoroso encanto
com que se desnudava e abria aos meus passos, oferecida...
Por isso foi andando que a penetrei, num lento progredir.
Conheci-lhe todos os meios, todas as horas, todos os cheiros,
quem a erguia e compunha, e os passantes apenas, romeiros
de um caminho já pronto para se percorrer, e se usufruir.
Caminhei a cidade até á exaustão, até a saturar dos meus passos.
Até reconhecer as caras daqueles que a amavam da mesma forma,
sem obediência a nenhuma regra, nem seguindo qualquer norma,
mas, como eu, apreciando-lhe as feições, decorando-lhe os traços.
E foi na cidade, e nos seus mistérios e tantos segredos,
que me soube maior do que me sabia, ou apenas adivinhava,
e percebi que haveria ainda uma outra estrada, jamais sonhada,
por onde ainda me lançaria afoito, apesar dos medos...
copyrightHenriqueMendes/2009