AMOR FATI
Deixe-me uma vez mais abrir a janela,
Afastar cortinas,
Para que o ar circule
Para que a esperança
Se renove...
Mesmo que seja ela
Um equívoco...
Um gozo fútil,
Inútil...
O que mais me resta?
Deixa que seja resto, réstia,
Engano tolo
Derradeira bobagem
Que me enlace
Que mais me resta?
Deixa que eu acredite
Que não hesite
Que persevere
E erre
E erre
E erre...
Não há acerto
Não há glória
Ao fim d’estrada
Não há morada
Que nos descanse
Não há chegada
Que nos aprume
Não há final feliz...
E nem por isso,
Esmoreço
Não há preço
Que me compre
A fé
E, por isso,
Peço, rezo,
Por um dia a mais
Que me enterneça
Por uma vã dança
Que nos embale
E nos remeta
Ao colo materno,
Eterno...
Que não nos deixava
Morrer
Mas agora,
Ao capítulo sôfrego,
Qual o balanço?
Qual o saldo?
Valeu de quê?
É uma lágrima última
Que me chega
É um soluço bêbado
Que me escapa
A espreitar essa aventura
Que ora acaba
Pobre grão
Insano de consciência
Que a todo firmamento
Contemplou
De que te somou
A maior experiência
Dos elementos recombinados?
Ser estupefato
Ante a grandeza
De tudo aquilo
Que, contigo, foi
Assim, contemplo
Assim me findo
E me despeço...
Era apenas disso
Que se tratava a vida?
Pois bem,
Se possível,
Tudo de novo,
Mais uma vez!